Brasil afundaEstamos nos aproximando dos Jogos Olímpicos 2016, no Rio de Janeiro. Mas a expectativa de um megaevento, atraindo milhares de turistas, o que ajudaria a combalida economia da cidade, pode não se confirmar. A mídia internacional tem sido implacável em ridicularizar o Brasil, pelo momento político e econômico por que está passando. E o Rio de Janeiro, em particular, pelas sucessivas escorregadas que comprometem ainda mais a reputação da cidade para sediar um evento dessa magnitude.

Não bastasse o atraso nas obras (esta semana a prefeitura do Rio cancelou o contrato com a empresa responsável pela construção do velódromo, após a companhia pedir recuperação judicial) e a suspensão de outras, que ficaram só nos projetos, existem fatos negativos que ajudam essa postura crítica da opinião pública internacional: a poluição da Baía de Guanabara, o desabamento da ciclovia, o estupro coletivo numa favela da cidade, ainda em apuração, a ameaça do vírus Zika e a piora nos níveis de segurança da cidade. Tudo isso contribui para afugentar turistas e colocar sérias dúvidas sobre a capacidade do próprio País em sediar a competição com a segurança exigida.

O comprometimento da reputação da cidade é alimentado por reportagens da mídia internacional, algumas com tom alarmista, de que a epidemia do Zika vírus é uma forte ameaça à saúde dos atletas. Há até mesmo um comercial sobre as delegações, onde a CNN, em reportagem feita no último dia 28 de maio, mostra o uniforme dos atletas da Coreia do Sul, concebidos com mangas compridas com a intenção de protegê-los do ataque dos mosquitos. Vai ser difícil os coreanos, acostumados com o frio, adaptarem-se ao calor do Rio de Janeiro com aqueles uniformes. Mas tudo isso contribui para desgastar a imagem da cidade. Assim também com reportagens em jornais da Europa e dos Estados Unidos.

O comprometimento da imagem e da reputação do Brasil não ocorreu nos últimos meses. Desde as manifestações a favor e contra o governo, que inundaram as ruas do Brasil com multidões em 2015 e neste ano, a mídia internacional tem pregado que "o caos tomou conta do país", pela incerteza de como o Brasil, já mergulhado numa das maiores crises  - política, econômica e ética - dos últimos anos, estará em agosto próximo. Até a incerteza sobre quem será o presidente, na abertura das Olimpíadas, virou piada internacional.

Os debates sobre o impeachment, as denúncias de corrupção, envolvendo políticos e outras autoridades, como empresários e banqueiros, além dos números negativos da economia nacional, tudo isso repercute no exterior e serve para jogar a imagem do país no seu nível mais baixo.

O site de notícias dos EUA Huffington Post diz que o ministério do Esporte inicialmente estimava que os Jogos Olímpicos trariam mais de US$ 30 bilhões em investimentos estrangeiros e impacto econômico para o país, mas os economistas têm contestado a noção de que os jogos proporcionam grandes benefícios econômicos para cidades e países-sede. Agências de classificação, que já desclassificaram o Brasil, tirando do país o "Grau de Investimento" levando-o ao status de "junk” (situação econômica delicada) estão alertando o país e investidores a não esperar um grande impulso (na economia) a partir dos Jogos do Rio - apesar de projeções otimistas dos envolvidos diretamente com os Jogos.

As Olimpíadas chegam num momento extremamente delicado para a economia do país, mergulhado na pior crise econômica dos últimos 85 anos. Dimensionou-se o evento com uma visão otimista, mas as autoridades econômicas não fizeram o dever de casa. Não são os Jogos Olímpicos que irão nos salvar. O resgate da autoestima do brasileiro virá com ajustes pesados sobre os trabalhadores, herança maldita do governo que conduziu o país nos últimos anos como se fosse a Ilha da Fantasia.

Os jogos em si podem ter sido preservados dos cortes no orçamento, mas como o Brasil enfrenta novos cortes no futuro imediato, por causa do ajuste fiscal, está se tornando claro que o dinheiro que gastou com os Jogos poderia ter sido melhor utilizado.

O especialista americano em gestão de crises Jonathan Bernstein, na abertura de sua Newsletter sobre gestão de crises, esta semana, fez uma espécie de editorial sobre as Olimpíadas no Rio. Fundamentalmente, ele diz que a controvérsia sobre a transferência das Olimpíadas encontra respaldo na reputação da cidade, colocando dúvidas quanto à capacidade de receber atletas e turistas com segurança.

Vejamos o Editorial

“Os próximos Jogos Olímpicos no Rio de Janeiro têm sido fonte de muita controvérsia, e não mostra sinais de arrefecimento. A mais recente vem sob a forma de uma carta aberta, assinada por mais de 150 especialistas de saúde de todo o mundo, que pede o adiamento ou a transferência dos jogos devido à ameaça representada pelo vírus Zika.

"A carta convida a Organização Mundial da Saúde a apoiar a mudança, citando o seu estreito relacionamento de trabalho com o Comitê Olímpico Internacional. A OMS respondeu rapidamente, afirmando que, "com base na avaliação atual, cancelar ou mudar o local dos Jogos Olímpicos de 2016 não vai alterar significativamente a propagação internacional do vírus Zika."

No meio do debate aponta-se o dedo sobre a proximidade entre a OMS e COI, bem como acusações do outro lado de que os fatos estão sendo analisados fora de contexto e ampliada sua repercussão de forma desproporcional.

"O que está claro é que, graças ao fluxo constante de controvérsia em torno dos jogos, o COI e os organizadores do Rio estão em um déficit de reputação. E é claro que não está ajudando que atletas de renome, incluindo mais recentemente o jogador jogador Pau Gasol, do Chicago Bulls, anunciarem publicamente as suas preocupações sobre o vírus e a segurança dos Jogos do Rio, em geral.

"Estamos chegando a um ponto em que os responsáveis ​​pela organização dos Jogos do Rio precisam fazer mais do que falar sobre quão seguro o evento será. As pessoas não querem promessas sem fim, elas querem ver fatos. A OMS afirmou que ele está conduzindo uma avaliação de risco dos Jogos, incluindo o vírus Zika e outros fatores de saúde, de modo que o primeiro passo seria compartilhar esses resultados.

"As pessoas têm visto relatórios dos perigos, incluindo estatísticas muito negativas. É preciso mostrar-lhes algo em contrário, ou a ameaça de crise pode evoluir para um problema sério para o sucesso da Rio 2016.”

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