xadrez boaFrancisco Viana*

Comunicação é como um jogo de xadrez: é preciso prever as jogadas à frente, e muitas, antes de mexer as peças. É agindo assim que se evita conflitos, que se garante posições seguras para iniciativas estratégicas.

Antecipação é um conceito dos antigos estoicos, que mediaram as relações humanas entre o fim da idade antiga e o início da era cristã. Entediam que a ética, alicerçada em atitudes interiores, eram os frutos do jardim da vida a serem colhidos na prática cotidiana e, assim, ensinavam o caminho para manter distância dos conflitos. Foram os grandes educadores dos romanos nos tempos da ascensão do império, o primeiro a ganhar verdadeira escala mundial.

Existiria um critério contemporâneo para a antecipação? Sim, pensar em três vertentes tão interligadas quanto difíceis de levar à prática: a coletividade, a lei e a capacidade da mídia de mexer com o nervo sensível das contradições. O que acontece é uma grande antinomia, um paradoxo monumental melhor dizendo: graças à internet, a visibilidade das organizações, sejam elas públicas ou privadas, é cada vez mais colossal. Em contrapartida, pensa-se sempre menos na tríade coletividade-lei-mídia.

Por quê? Certamente se está pensando o mundo moderno em termos extremamente individuais ou de grupos. Caso contrário, o escândalo dos imigrantes ilegais tratados de maneira tão visceralmente desumana em Lampedusa não teria existido. E não teria sido denunciado pelo canal italiano de televisão RAI. Haveria previsão. As autoridades pensariam antes de agir.

Quantos escândalos semelhantes não ocorrem cotidianamente no Brasil simplesmente por falta de previsão? Basta ler os jornais cotidianamente para se constatar, com facilidade, que a comunicação como arte da antecipação é geralmente esquecida. Vive-se no século 21 com práticas medievais, quando não existiam mídias sociais.

Não é preciso ir muito longe. É suficiente verificar o número crescente de processos de cidadãos contra organizações. Age-se como se a lei não existisse. E ela existe. Se fortalece e se enraíza no inconsciente da sociedade. As indenizações se multiplicam. A lamentação geral é quanto a judiacialização dos problemas. Não é: antecipar soluções é simples e muitas organizações trabalham nesse sentido, vendo que a realidade mudou e o cidadão passa a ser real. Não mera abstração.

franciscovianaDireito e democracia caminham juntos. Como comunicação e antecipação, fazem parte de uma mesma essência. Por que não abrir os olhos para evidência tão simples e efetiva?  

 

 

*Jornalista, mestre em Filosofia Política (PUC-SP) e consultor de empresas. Email Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.

O artigo foi originalmente publicado no site aberje.com.br.

 

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