fumaca_vulcao_impede_voosQuem diria? A súbita erupção do vulcão da geleira Eyjafjllajokull, no sul da Islândia, inativo há 200 anos, provocou o maior apagão da história da aviação, superando até mesmo o caos do 11 de setembro de 2001. Administradores de aeroportos, empresas aéreas e controladores foram apanhados de surpresa com a necessidade de suspender todos os voos numa extensa área do norte da Europa. Aviões no pátio não só na Europa, mas em todos os aeroportos, pontos de partida com destino europeu.

Até sexta-feira (15), cerca de 20 mil voos haviam sido cancelados na Europa, pelo segundo dia consecutivo. E pior, especialistas em aviação estão prevendo que os aeroportos podem permanecer fechados até meados da próxima semana, o que acarretaria prejuízos incalculáveis à indústria da aviação. O serviço metereológico da Islândia confirmou que a erupção do vulcão continuou pelo terceiro dia, com as nuvens de fumaça e poeira alcançando uma altura de três milhas. O jornal inglês The Guardian prevê o caos até pelo menos segunda-feira. Algumas empresas aéreas, como a Ryanair, já cancelaram todos os voos até a 1 hora de segunda-feira (19).

“Eu acho que a Europa está provavelmente experimentando a maior perturbação às viagens aéreas desde o 11 de Setembro”, disse um porta-voz da Autoridade de Aviação Civil britânica. “Em termos de fechamento de espaço aéreo, é pior do que o 11 de Setembro. A perturbação é pior do que qualquer coisa que já vimos”.

A crise aérea desencadeou, por tabela, uma demanda sem precednetes sobre trens, navios e outros meios de transporte. O Eurostar, que faz a ligação rápida da Inglaterra com França e Bélgica, não tinha mais lugares e o preço das passagens,  regulado pela demanda, atingiu seu preço máximo. Uma passagem de ida de 69 libras chegou a ser vendida por 220 libras.

A fuligem provocada pelo vulcão chegou a subir até 16 mil metros, acima até da rota dos aviões intercontinentais. A suspensão se deve à ameaça que as cinzas do vulcão, com partículas, representam para a segurança dos voos. Em 1982, um voo da British Airways perdeu toda a potência dos motores ao atravessar uma nuvem de cinzas, proveniente de um vulcão em erupção, sobre a Indonésia. Os motores só voltaram a funcionar quando o avião saiu da zona congestionada pelas cinzas. O mesmo ocorreu em dezembro de 1989, com um voo da KLM que ia de Amsterdã para Anchorage, no Alasca, que mergulhou 4 mil metros, com os motores em pane, ao passar sobre uma nuvem de fumaça da erupção do Monte Redoubt.

A ameaça à segurança levou as agências de aviação recomendarem a suspensão de todos os voos na região, sem perspectiva de data para normalização. Heathrow, o terceiro aeroporto do mundo, em movimentação de passageiros e aeronaves viveu um dia de cão. A cada 10 segundos desce ou sobe um avião e por ele transitam diariamente 180 mil passageiros. Nos quatro aeroportos de Londres, o apagão afeta mais de 500 mil pessoas diariamente.

Essa crise inusitada e imprevista é o que os especialistas chamam de “atos de Deus”, assim como terremotos, maremotos, tsunamis. Os casos de erupção de vulcões, principalmente quando não há sinais externos, são praticamente impossíveis de prever, segundo os geólogos. São fenômenos da natureza que não estão sob controle humano. Mesmo nesses casos, em que dificilmente podem ser previstas, as tragédias podem ser pelo menos minimizadas.

Como administrar essa crise

Se essa crise está enquadrada naquela parcela mínima de acontecimentos difíceis de prever, o que fazer para minimizá-la? Os administradores de aeroportos, empresas aéreas, agências de viagem e demais intervenientes devem ter esquemas alternativos de atendimento para amenizar o transtorno e o desconforto dos passageiros, além de evitar o caos nos aeroportos. As empresas foram orientadas a acomodar os passageiros em hotéis até que a situação se normalize, aliviando a pressão sobre os serviços dos aeroportos. Como não há uma solução a curto prazo, a melhor medida é resolver a situação emergencial dos passageiros em trânsito.

É uma tarefa difícil, porque todos foram pegos de surpresa. Ninguém montou esquemas alternativos. Muitos aviões não puderam sair, porque não conseguiram voltar aos locais de origem. Como as empresas aéreas trabalham com uma malha  interligada, é muito difícil evitar o caos quando a suspensão envolve tantos aeroportos.

Por isso, o cancelamento de voos, iniciado em 14 de abril, atinge vários países da Europa, como Grã-Bretanha, Irlanda, Islândia, Dinamarca, Bélgica, Holanda, Suécia, Noruega, Finlândia, Suíça, Polônia, Itália, Eslováquia, Croácia, Hungria, Alemanha e Rússia, além de problemas na França, Espanha e Portugal e outros países. Mas voos de todas as partes do mundo com destino à Europa foram suspensos, o que praticamente transforma esse acontecimento numa crise global, de dimensões e prejuízos ainda incalculáveis, a exemplo do que aconteceu após o atentado de 11/09/01.

A Associação Internacional de Transporte Aéreo calcula que o fechamento do espaço aéreo  europeu estaria causando um prejuízo diário de US$ 200 milhões. “Não poderia vir num pior momento para a indústria”, disse um porta-voz da IATA. “Empresas aéreas da Europa têm enfrentado uma dura prova financeiramente, suportando US$ 2.2 bilhões de perdas este ano”.

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