O jornal britânico The Times traz artigo na edição de hoje sobre o pioneirismo do Reino Unido em aprovar a primeira vacina contra o coronavírus. A reportagem não consegue esconder o viés político da aprovação pela agência reguladora do Reino Unido da vacina Pfizer-Biontech, a ponto de o primeiro-ministro Boris Johnson ter escorregado, numa entrevista à imprensa, insinuando que isso só foi conseguido graças ao Brexit. Ou seja, que a Inglaterra não dependeu da burocracia da União Europeia, “muito lenta”, em outro escorregão de ministro britânico. Mais tarde, ele teve que voltar atrás na infeliz declaração.
Isso mostra que politizar a criação, aprovação e aplicação da vacina não é uma exclusividade do Brasil. Aqui, o governo federal depende ainda da vacina Oxford/AstraZeneca, que, por erro cometido no laboratório da universidade, em Londres, na fase de testes, precisou refazer alguns procedimentos. A outra vacina destinada ao Brasil, a CoronaVac, é produzida na China e apoiada pelo governo de São Paulo e, de certo modo, é boicotada pelo governo federal, provavelmente porque teme o Doria usar como arma política essa vacina. As outras não foram contempladas pelo governo do Brasil, o que leva a uma decepção, porque, pelo andar da carruagem, afirmado pelos infectologistas e especialistas, nessa marcha o Brasil só terá vacina após meados de 2021.
Quando a vida será normal?
O The Times, na mesma reportagem, num box, faz uma breve análise, quando responde à pergunta que não quer calar.
“O paradoxo da aprovação da vacina é que ela torna o distanciamento social menos necessário no longo prazo, mas ainda mais necessário no curto prazo.
“Antes de sabermos que as vacinas funcionariam, era necessário aprender a conviver com o vírus. Agora faz mais sentido salvar o maior número de vidas possível. Isso deu aos ministros uma mensagem difícil de transmitir, saudando as boas novas e exortando as pessoas a não terem esperanças.
“Para todas as rixas sobre qual regulador é mais rápido, a questão não é quando o primeiro golpe vai para o braço de uma enfermeira. Pode não ser mesmo a rapidez com que o NHS pode criar centros de vacinação. O que todos nós queremos saber agora é quantas pessoas precisam ser vacinadas antes que eu possa visitar minha família?
“A maior incógnita aqui é se as vacinas o impedem de transmitir o vírus, bem como de adoecer. Se o fizerem, eles protegerão a todos. Boas notícias aqui dariam razões para pensar que a vida poderia estar mais ou menos de volta ao normal no verão. O NHS estima que três quartos das pessoas concordarão com a vacina, e isso pode muito bem ser o suficiente para criar imunidade coletiva.
“Mesmo sem isso, entretanto, proteger os vulneráveis fará diferença para todos. A necessidade de regulamentos rígidos surge do risco de o NHS ser sobrecarregado. O professor Van Tam estimou que vacinar os 30 milhões na lista de prioridades poderia prevenir 99 por cento das mortes por vírus, e cobrir apenas os dois milhões em maior risco preveniria 75 por cento. É provável que os mais necessitados sejam vacinados até março. Então, mesmo que milhões ainda possam ser infectados, a necessidade de regras começará a desaparecer.”
Fonte: The Times, Londres, 3 de dezembro de 2020.
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