RBS_crise_inglesaA empresa aérea irlandesa Raynair anunciou que passará a cobrar uma libra para o passageiro utilizar o banheiro do avião. Para quem pensava que a voracidade das empresas aéreas tinha limites, ainda não viu nada.   Além de taxarem por peso, por volume e até pela alimentação, as empresas exageram. Passageiros de avião devem se prevenir. Se não portarem uma libra, não utilizam o banheiro. A porta só libera com a moedinha.

Essa medida radical dá uma idéia de como a crise está levando as empresas, principalmente na Europa a soluções delirantes como essa. As aéreas, que já vinham com problemas desde o 11 de setembro de 2001, estão no fundo do poço. Os assentos vazios refletem a fuga dos executivos e dos turistas também atingidos pela crise. No bojo das cobranças, vêm as demissões ou medidas inócuas, como restringir acesso a banheiros. Ninguém sabe o tamanho e a duração da crise.  Os economistas consideram 2009 perdido. A situação nas grandes economias européias beira o desespero. Os imigrantes  são os mais afetados.

A Inglaterra, que nos últimos anos teve uma invasão de trabalhadores do leste europeu, aposta que eles acabarão retornando ao país de origem pela falta de trabalho. Existem 150 mil brasileiros em Londres, também duramente afetados pela crise. Cada vez mais as ocupações descem de nível. É comum encontrar estudantes qualificados trabalhando em serviços de faxina.

Na Espanha, a crise faz vítimas de todos os lados. O tradicional clube de futebol Valencia não tem mais dinheiro para pagar os salários. Os jogadores começam a ser dispensados. Na esteira de muitas lojas pequenas que fecharam, em Madrid, um dono de construtora foi preso acusado de cinco assaltos a bancos.

Em Andaluzia, no sul da Espanha, milhares de imigrantes sem comida ou abrigo invadiram cidades procurando em vão trabalhos na colheita de azeitonas, reduto dos espanhóis. O país não consegue assimilar facilmente a crise, porque vinha de um período longo de crescimento, atraindo imigrantes principalmente de países latinos. Nos dez anos terminados em 2006, o crescimento real na Espanha chegou à média anual de 3,7%, contra 2,1% na zona do euro. Hoje são 3,3 milhões de desempregados, ou 14,4% conforme a última estatística divulgada neste mês de fevereiro.

Na França, o número de pessoas desempregadas teve em janeiro o maior avanço histórico, e o governo de Nicolas Sarkozy prevê que os dados dos próximos meses deverão ficar em um nível similar. Mais 90,2 mil trabalhadores franceses perderam o emprego em janeiro e o número de pessoas desocupadas chegou a 2,2 milhões.

Até então, o pior resultado havia ocorrido em novembro do ano passado, quando 65 mil pessoas ficaram sem trabalho devido ao aperto no crédito que afetou a indústria e o sistema financeiro. Em dezembro, 46 mil pessoas entraram para a lista de desemprego. O presidente francês prometeu na semana passada 2,65 bilhões de euros para ajudar a população mais pobre, com medidas que incluem cortes de impostos e pagamentos de bônus para desempregados.

O PIB (Produto Interno Bruto) francês caiu 1,2% no quarto trimestre do ano passado, o maior recuo em 34 anos, e projeta-se que este ano a economia tenha a maior retração desde o fim da Segunda Guerra Mundial, em 1945.

Maior prejuízo da história

A Inglaterra há meses coleciona notícias ruins sobre desemprego, fechamento de bancos e indústrias. Mas ainda não se recompôs da notícia que envolveu o maior banco inglês, o Royal Bank of Scotland (RBS), marca que os brasileiros se acostumaram a ver nos carros da Williams de Fórmula 1. O RBS anunciou um prejuízo de 25 bilhões de libras (US$ 34,4 bilhões) em 2008, o maior da história financeira da Inglaterra. O banco inglês vinha de um lucro de 7,3 bilhões de libras em 2007 (US$ 10,4 bilhões).

Além do cenário negro para os bancos, as perdas maiores vieram da aquisição do banco holandês ABN  Amro (16,2 bilhões de libras). Junto com o anúncio do prejuízo, que fere o orgulho britânico naquilo que os ingleses pareciam entender bem pela emblemática City de Londres, outro escândalo acompanhou o anúncio do rombo.

As perdas foram divulgadas quando o contribuinte britânico ficou sabendo que o ex-diretor-executivo do banco, Fred Goodwin, de 50 anos, receberá uma pensão vitalícia de 600 mil libras (US$ 864 mil). Até o primeiro ministro britânico entrou nas negociações para ele desistir desse prêmio, após ter afundado o banco inglês. Mas ele alega ter negociado essa pensão, num acordo de saída do banco.  Ele não gostou e ficou surpreso pelo vazamento da informação na mídia inglesa, numa reação própria de executivos avessos à divulgação de seus ganhos privados, ainda que a custa do contribuinte. Seu prêmio é semelhante ao dos técnicos de futebol no Brasil, demitidos pelo fracasso, mas levando por um bom tempo salários milionários.

O banco, que já havia recebido auxílio do tesouro inglês, anuncia novo plano de recuperação:  corte de custos do grupo e operações centradas no Reino Unido. Depois da quebra da Islândia e das dificuldades de vários pequenos bancos britânicos, parecia que nenhuma notícia poderia ser pior. O prejuízo do RBS poderá ser analisado no futuro como um bom case de crise. Isto porque, num cenário em que os bancos ganharam muito dinheiro, o fracasso da administração do RBS carrega na sua história erros de gestão, a desastrada aquisição de um banco que rendeu mais prejuízo e a história de uma régia aposentadoria para o executivo que acabou sendo responsável pela fraca performance do banco inglês.

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