Qual a importância da comunicação para os líderes empresariais, governantes e chefes de equipe? Manter uma comunicação aberta e transparente é o atributo mais importante para 84% dos respondentes da pesquisa Ketchum Leadership Communication Monitor 2016, realizada em dez países, com três mil pessoas. Apenas 37% dos pesquisados acreditam que os líderes se comunicam bem. Pelo menos esse índice melhorou, porque em 2015 eram 19% os que admitiam que os líderes praticassem uma boa comunicação.
A pesquisa da Ketchum objetiva esclarecer a ligação que existe entre a liderança e a comunicação eficaz e de como essa associação funciona para o sucesso da empresa.
Segundo o “briefing” da Ketchum, “ao longo dos cinco anos de pesquisas anuais, as conversas com mais de 25 mil consumidores em cinco continentes revelaram uma imagem detalhada do que as pessoas pensam dos líderes de cerca de 22 indústrias: baixa confiança e frustração de expectativas constituem o novo padrão de normalidade para líderes; e as preocupações de liderança têm um impacto direto, de tamanho considerável, tanto na essência do negócio quanto nos resultados políticos.
Apesar do enorme progresso social dos últimos anos, as barreiras rígidas relativas a raça, gênero, deficiência física e orientação sexual continuam presentes, diz a Ketchum nas conclusões, bloqueando o acesso igualitário às oportunidades de liderança por meio da área de negócios, da política, de comunidades locais, organizações sem fins lucrativos, sindicatos e organizações trabalhistas.
“Os resultados do quinto estudo anual KLCM revelam que a maioria das pessoas acredita que essas barreiras criam um "teto de liderança de vidro multi-dimensional." No entanto, quando se trata de destruir esse teto de vidro, os entrevistados visualizam novas leis e legislações menos eficazes do que as ações de empresas, empregadores e mesmo da responsabilidade individual.”
Algumas conclusões da pesquisa
Quase dois terços (63%) dos entrevistados globais acreditam que os políticos têm desempenho aquém das expectativas. Apenas 7% admitem que os políticos assumem a responsabilidade apropriada; apenas 1 em cada 5 (22%) dizem que os políticos lideram eficazmente. 12% dos pesquisados antecipam uma melhoria durante o próximo ano e mais de metade (51%) acredita que o desempenho poderá ficar até mesmo pior.
Segundo a Ketchum, na raiz deste aprofundamento da crise global de confiança em líderes políticos está a percepção de que eles estão administrando as coisas certas de forma errada e gerenciando certo as coisas erradas. Nas três áreas de maior importância para os pesquisados (corrupção, economia e educação) há uma lacuna considerável entre a importância dos problemas e a efetividade dos líderes políticos em enfrentá-los. Antes das convenções partidárias dos EUA, em meados de julho, e após votação do Reino Unido, que aprovou a saída da União Europeia, a mensagem de "deve fazer melhor" para os líderes políticos de todo o mundo não poderia ser mais clara, conclui o estudo.
A pesquisa apurou ainda o desempenho da comunicação dos líderes, por indústrias. Cerveja e bebidas; tecnologia; hotéis, viagens e turismo; e serviços profissionais e negócios são os que se destacaram. Ao contrário, com as piores marcas para os líderes aparecem as áreas de utilitários, bancos e óleo e gás.
E quais seriam as qualidades mais destacadas que os respondentes veem num líder individualmente? Comunicação aberta, capacidade de admitir os erros; conduzir crises calmamente; e capacidade de tomada de decisão. E no líder corporativo? Foco no cliente; inspirar confiança e qualidade de gestão inovativa no serviço de atendimento ao cliente.
E qual a forma ou o meio mais efetivo para se comunicar? Em respostas múltiplas, para 56%, a conversa direta ou palestras presenciais. Para outros 56%, comunicados formais ou Notas de Imprensa. Para 53%, entrevistas de TV. Para 51%, comunicados no website. 43% apontam comunicados oficiais da empresa. 25% indicam a propaganda instucional na TV e somente 14% apontam a publicidade na mídia impressa.
A pesquisa também investigou o grau de satisfação com as lideranças nos dez países. O país mais satisfeito é a China. O Brasil não está mal. Fica em terceiro lugar no grau de satisfação entre os dez pesquisados. Onde a liderança está pior avaliada é no Japão (o pior dos 10), no Reino Unido e na Espanha.
Confiança nos CEOs também é baixa
Problemas de comunicação são apenas parte de como os CEOs são encarados nas organizações, com raríssimas exceções. A pesquisa Edelman Barometer, que mede o grau de confiança nas instituições, anualmente, em 25 países de maior PIB, aponta que a credibilidade dos CEOs também não anda lá essas coisas. Eles aparecem em sexto lugar, como fontes confiáveis, perdendo para os técnicos experientes; acadêmicos, pessoas de confiança dos interlocutores (amigos, parentes, colegas), analistas financeiros e até os empregados da empresa. Eles tinham em 2015 a indicação de "muito confiáveis" para 41% dos entrevistados, percentual que subiu um pouco, para 49%, emm 2016.
À guisa de conclusão, poderíamos dizer que não parece novidade a pesquisa constatar que a comunicação continue despontando como um requisito fundamental para consolidar a liderança. Mas, passados tantos anos de estudos de comunicação que insistiam nisso, o que vemos nas empresas hoje, no mundo da interatividade, são líderes que relutam ainda em admitir a importância estratégica da comunicação. E, pior, não admitem que o treinamento e o preparo nessa área seja fundamental para os negócios. Uma visão errada e que contribui para perpetuar práticas pouco transparentes e que não irão se sustentar.
Foto: Winston Churchill, 1º ministro da Grã-Bretanha, durante a II Guerra Mundial.