felipão 2Heródoto Barbeiro*

É inevitável que o esporte seja contaminado com os métodos de gestão e comunicação do mundo corporativo. Competência, evolução gerencial, aprimoramento intelectual, comunicação eficiente cabem em qualquer lugar. Em clubes ou em federações esportivas. A comunicação de uma corporação não se processa pelo que passa na cabeça de um líder, nem ele tem o mandato para falar sobre o que bem entender.

Tem limites e é treinado para “alinhar “ o que vai ser dito, ou seja vai se inteirar das key messages escolhidas pela corporação. Qualquer desvio disso pode resultar em dano para a imagem da empresa, da perda de credibilidade e de admirabilidade. Em alguns casos custa o emprego do entrevistado. A relação entre líder e liderados também não pode ser a de papai e seus filhinhos, como recentemente mostrou a seleção de futebol. Líder não é chefe, chefe não é professor, professor não é papito.

 A  estratégia de comunicação corporativa no esporte já chegou no Brasil, e foi usada pela CBF na Copa do Mundo. O esquema armado foi amador, uma vez que ficou evidente que muito pouca informação era dada nas entrevistas coletivas. Qualquer diretor de comunicação corporativa sabe que os jornalistas querem fatos, informações, notícias, números, enfim matéria prima para que possam desenvolver as suas reportagens.

Favoráveis ou não é um mero detalhe. Contudo, os organizadores da comunicação contaram que boa parte dos jornalistas era desinformada, mal preparada, “amigos” da casa e portanto poderiam ficar tranquilos com o resultado. O que se viu, antes e depois das vitórias e das derrotas, foi uma péssima comunicação. Uma empresa desenvolve comunicação porque sabe que com isso mantém e conquista clientes e que ela é importante para a marca. No caso da empresa CBF, que é dirigida como se fosse um órgão governamental, a necessidade de falar não se dá pela pressão dos acionistas, mas pelos torcedores.

Ficou evidente a estratégia. O coach tentou posar de  CEO, chief executive office. O jogador escolhido a dedo para participar da entrevista era o “porta voz“ do grupo. Todos os demais foram mantidos à distância, longe dos jornalistas que, salvo exceção, não tiveram entrevistas exclusivas. O jogador decorou as respostas que deveria dar. As entrevistas de Neymar foram mais importantes que os treinamentos. E ele estava  treinado, com as key messages evidentemente decoradas, provavelmente urdidas nos escaninhos da CBF, do governo e de sua própria empresa, cujo chefe é o pai. Não o papito.  

O CEO, Filipão, mais experiente, usou a técnica do embromation. Diante da pressão da torcida e de centenas de veículos de comunicação, tudo ficou mal explicado e muito pouco se aproveitou da experiência da comunicação corporativa. Foi um arremedo. A exposição das marcas dos patrocinadores na tapadeira atrás dos entrevistados deu mais prejuízo do que resultado. Enfim, o que mais funcionou foi a técnica da blindagem muito usada no mundo político, mas ineficiente no mundo corporativo. No mundo do esporte ela é imprescindível, principalmente  em dias de  derrotas humilhantes.

*Heródoto Barbeiro é jornalista e âncora do Canal Record News.   

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