*João José Forni
Quando os anos passam e a gente fica pensando no passado, ao botar conversa fora, surge aquela inevitável pergunta: qual a melhor época da nossa vida? Alguns lembram da infância, como a fase mais alegre, despreocupada e irresponsável. Por isso mesmo, um tempo de saudade, geralmente numa cidade do interior, na fazenda, no sítio, brincando de amarelinha (ou sapata, no Sul), chicotinho queimado, ciranda...
Poucos escolhem a adolescência. Esta, embora uma fase de descobertas, geralmente é lembrada mais pelos entreveros com os pais, as obrigações na escola, as cobranças, e a eterna disputa com amigos e colegas. Ou até mesmo com a falta de alguém para conversar, tendo que resolver os problemas sozinho. Pode até lembrar alguma paixão que ficou para trás. Cada um tem uma saudosa história, mas não a preferência por essa fase da vida.
A geração que hoje passou dos 50 anos e não teve carro, internet, Facebook, Twitter, iPhone, iPad e big brother (graças a Deus!), muito menos passagens aéreas e viagens ao exterior, pagas em suaves prestações, lembra-se da pressão para aprender a fumar, para conseguir entrar num clube, para se igualar aos demais colegas. Dos raros piqueniques, feitos na escola ou com a família, sob o olhar vigilante de pais ou professores. E do prazo dado pelos pais para arrumar um emprego. Afinal, quem passava dos 18 e ficava em casa, já era considerado malandro ou acomodado. As mulheres em geral, naquela época, tinham menos cobrança.
A casa dos 20, para muitos, foi o período mais difícil. Concluir os estudos, conseguir um emprego, namorar, casar, construir uma casa, uma cobrança atrás de outra. Da sociedade e da família. Quem passou dos 50, 60, 70, certamente gostaria muito de estar hoje na casa dos 20. Mas será que estaríamos preparados para enfrentar o mundo com todas essas facilidades, desafios e avanços? Como os jovens de hoje estão? Como eles conseguem driblar e fazer tanta coisa ao mesmo tempo? Assistir à TV, teclar SMS, enviar torpedos, ouvir música com fone de ouvido e mascar chiclete, tudo na mesma hora?
As angústias e desafios podem ser os mesmos. Mas as oportunidades são outras. Isso vale para quem está nos 20, 30, 40. Jovens de 25 anos estão galgando posições que a geração de seus pais só conseguiu atingir após 20 ou 30 anos de trabalho. Há muita concorrência, mas também mais oportunidades. O mundo de facilidades, fortuna rápida e amores ousados e fugazes pode dar a impressão de que os jovens de hoje são mais felizes dos que os de antigamente. Ou de que a melhor fase da vida é, realmente, a juventude. E a velhice uma chatice. Uma tristeza.
Outro dia, um amigo me fez uma afirmação curiosa e admirável. Aos 68 anos assegurou: “estar agora na melhor fase da minha vida!”. Que maravilha, chegar aos 68 e admitir como a melhor fase da vida. “Eu faço minha agenda, meus horários, leio muito, estudo, viajo para lugares com os quais sempre sonhei, faço ginástica, atingi uma estabilidade suficiente para viver razoavelmente bem. Tenho saúde e aproveito cada minuto da vida, curtindo cultura, lazer, esportes com minha esposa, filhos e amigos”.
Provavelmente ele foi daqueles adolescentes que amadureceu cedo, precisou sair logo de casa, para trabalhar. De família humilde, lutou para conseguir emprego, estudar. Saiu da própria cidade. Precisou economizar para pagar ônibus, pensão, estudos e ainda ajudar a família, com o pouco que ganhava de salário. Isso pode ter durado vinte ou trinta anos. Mas certamente foi alguém que plantou na juventude as árvores e os frutos que agora está colhendo. Esse é o padrão de muitos homens e mulheres, aposentados do trabalho formal, mas não aposentados da vida. Pessoas que hoje não relutam em dizer que estão “numa boa”.
Para quem é jovem, olhar um horizonte daqui a 20 ou 30 anos parece coisa de futurólogo. Como será o mundo daqui a tanto tempo? Por que eu precisaria fazer um plano de aposentadoria? E por que teria de cuidar da saúde agora? Essa é uma dádiva que precisa ser cultivada desde muito cedo. Os jovens esquecem que o investimento para chegar saudável, após os 50, 60 ou 70 começa na infância, na adolescência. A monotonia da idade pode até ser driblada inventando-se alguma atividade prazerosa. Mas o tempo é implacável com o corpo. Se nós, desde cedo, não cultivarmos hábitos saudáveis, certamente no futuro a idade cobrará.
Ao fim e ao cabo, qual a melhor época da vida? Não adianta ficar elocubrando sobre gerações passadas ou futuras. As gerações se completam. E como faz bem para quem amadurece, conviver com as crianças e os jovens de hoje. Como diz Nizan Guanaes, “se quiser pensar diferente, ver como o mundo está mudando, ouça seus filhos, seus netos, a turma deles”.
O segredo talvez esteja em encarar cada atividade, cada tempo como especial, único. Fazer cada coisa como se fosse a melhor coisa do mundo, naquele momento. Assim, chegaremos na idade madura, na melhor idade, na velhice, sempre admitindo, como aquele meu amigo, que realmente estamos na melhor fase da vida.
*Jornalista, Consultor de Comunicação. Editor do site www.comunicacaoecrise.com e autor do livro Gestão de Crises e Comunicação – O que Gestores e Profissionais de Comunicação precisam saber para Enfrentar Crises Corporativas.