PasadenaA abertura do sigilo da delação do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró, junto com emails que teriam sido decifrados pela Polícia Federal, deixam a situação da presidente afastada (adjetivo legal, mas esquisito e humilhante) pior do que já estava. Esses dados que vêm à tona nesta semana acabam mostrando aquilo que a maioria dos brasileiros fala nos bastidores, a mídia tem o maior cuidado para endossar e os militantes negam: Dilma sabia de tudo o que de e'rrado acontecia na Petrobras.

Aqui neste mesmo site, vários artigos publicados desde abril de 2014 (veja abaixo), quando a operação Lava Jato começou a desvendar o mico de Pasadena e a descobrir o escândalo envolvendo diretores e gerentes da Petrobras, colocaram em dúvida as afirmações da então presidente que dizia “não saber”, “ter sido enganada”, que recebeu “informações incompletas”, coisas do gênero.

Como alguém que desde 1º de janeiro de 2003 tomou pra si o comando da área de energia do País, o que inclui a Petrobras, Transpetro, Eletrobras e todos os seus penduricalhos e nunca largou o pedaço, pode argumentar com um mínimo de credibilidade que não sabia de nada ou foi enganada? Repetimos: ou foi conivente, omissa; ou, então, se confirma aquilo que até Lula nos bastidores tem confidenciado: é uma incompetente. Chefe que não sabe o que fazem os seus liderados, principalmente quando cometem crimes, não lidera, não é chefe, é um arremedo, um banana.

Pasadena e despesas pessoais

Nestor Cerveró afirmou que Dilma Roussef, não só tinha conhecimento de todos os detalhes sobre a compra da sucateada usina de Pasadena, nos EUA, como também deveria saber que políticos do PT recebiam propinas da Petrobras. A PF e o MP sabiam disso há bastante tempo. Nós ainda não. Ele afirmou com todas as letras “que Dilma Roussef acompanhava de perto os assuntos referentes à Petrobras”, que “Dilma tinha inclusive uma sala na sede da Petrobras no Rio de Janeiro.”

Convém recordar o que aconteceu. Em 2006, a Petrobras comprou 50% de uma refinaria em Pasadena, nos EUA, que pertencia ao grupo belga Astra Oil. Em 2008, em razão de injunções legais, teve de comprar os outros 50%. Segundo o TCU, essa operação resultou num prejuízo para a estatal de US$ 792 milhões. A usina nunca produziu; era um projeto que valia quando muito US$ 40 milhões, segundo avaliação feita na época.

Dilma era a presidente do CA da Petrobras. Alegou que Cerveró, que comandou a aquisição, omitiu dados sobre o contrato. Cerveró não deixa dúvidas. Afirma que a então ministra da Casa Civil sabia de tudo. Ela disse em 19 de março de 2014, quando o escândalo estourou, que só apoiou a medida porque recebeu "informações incompletas" de um parecer "técnica e juridicamente falho". Divulgou uma Nota e jogou, na época, essa crise no colo de Graça Foster, então presidente da Petrobras.  Esse tema nunca foi pacificado, entre as afirmações de Dilma e versões contraditórias de funcionários da Petrobras e de delatores.

Em seu depoimento, Cerveró diz “que Dilma Rousseff tinha todas as informações sobre a refinaria de Pasadena; que o Conselho de Administração não aprova temas com base em resumo executivo; que o projeto foi aprovado na Diretoria Executiva da Petrobras numa quinta, e, na sexta, o projeto foi aprovado no Conselho de Administração; que esse procedimento não era usual”.

Num contundente depoimento, revelado pela imprensa, fruto de gravação para a Polícia Federal e a Justiça do Paraná, quando da sua delação, Nestor Cerveró atacou:"Se a Dilma gostasse mesmo de mim, não tinha me sacaneado há dois anos, quando fugiu da responsabilidade, dizendo que tinha aprovado Pasadena, porque eu não tinha dado as informações completas. Ela me jogou no fogo, ignorou a posição de amizade que existia, que eu acreditava que existia (trabalhei junto com ela 15 anos). Era época de eleição, ela tinha que arrumar um Cristo...  Então “Ah não, eu fui enganada...” É mentira. É mentira. Dilma sabia de tudo o tempo todo". (Gravação divulgada no "Jornal Nacional" da Rede Globo, de 6/6/2016).

É bom lembrar que Dilma iniciou em 2003, no governo Lula como ministra das Minas e Energia, a quem a Petrobras se reportava; foi presidente do Conselho de Administração da empresa até março de 2010; depois, como Chefe da Casa Civil de Lula, continuou mandando nessa área, como costumava fazer em áreas em que se julgava entendida.

Os argumentos da ex-ministra para negar o óbvio são parecidos com os do ex-presidente da estatal, Sérgio Gabrielli, que afirmou na CPI da Petrobras, em 2015, que não tinha controle sobre a gestão da Petrobras, ou seja, não sabia tudo que acontecia na empresa. Um absurdo sob qualquer aspecto que se analise na ótica da governança e das práticas da boa gestão. Naturalmente que Dilma nega isso tudo, como é prática de todos os acusados pelos delatores até agora.

Mas as delações continuam sem deixar Dilma dormir. O lobista Benedito Oliveira Neto, o Bené, afirmou em delação que Giles Azevedo, um dos mais próximos assessores de Dilma, usou um contrato da Secretaria de Comunicação da Presidência, de R$ 44,7 milhões, para pagar dívidas de campanha com a agência Pepper, que trabalhou na eleição de 2014. É a primeira declaração objetiva e contundente sobre uso de dinheiro ilícito em campanha da candidata a presidente, em 2014.

Não param aí as acusações que começam a pipocar envolvendo a presidente afastada e que sempre se declarou “uma mulher honesta”, contra quem não existe nada. A PGR tem documentos, segundo o colunista Merval Pereira, de O Globo, revelando que Dilma tinha conhecimento, antes da reunião do Conselho de Administração, das negociações envolvendo políticos para que a estatal comprasse a refinaria de Pasadena.

E ainda mais. Em outras mensagens decifradas dos emails, segundo o colunista, há informações sobre pagamento de itens pessoais da presidente pelo esquema de propinas da Petrobras, como o cabeleireiro Celso Kamura, que viajava para Brasília às custas do grupo da propina. Cada ida de Kamura a Brasília custava R$ 5 mil. Caro, esse japonês. Naturalmente, aparecerão os desmentidos.

Se confirmada essa informação, que provavelmente será rigorosamente apurada, se já não estiver, pela Polícia Federal, é a primeira denúncia para fins pessoais da presidente, de dinheiro comprovadamente desviado da Petrobras. Como se vê, se Dilma tem uma grave crise afastada da presidência e tendo que se defender para não ser varrida da vida pública, agora aparecem outros ataques, que colocam em xeque as afirmações que ela faz aos gritos, de que “é uma mulher honesta” e nada pesa sobre ela.

Odebrecht em delação admite ter pago despesas pessoais de Dilma

Atualização do artigo em 04/06/16

A imprensa repercute neste sábado, dia 4, que executivos da Odebrecht relataram na negociação de suas delações premiadas que a empreiteira pagou despesas pessoais da presidente afastada, Dilma Rousseff, que permitiram a ela cuidar da própria imagem. Entre as despesas está o cachê do cabeleireiro Celso Kamura. O cabeleireiro, em nota ontem (dia 3) desmentiu essa informação, dizendo que ou o pagamento era feito pela presidente, pessoalmente; e, quando em missão oficial, pelas empresas de João Santana, o que não ameniza muito a denúncia, até porque o ex-marqueteiro de Dilma, João Santana, foi denunciado e preso após apuração da Operação Lava Jato, por ter recebido pagamentos até mesmo no exterior com dinheiro de propina de empreiteiras. Ou seja, dinheiro sujo pagando despesas oficiais.

Essa informação é confirmada pelos delatores. Na negociação, os diretores da Odebrecht afirmaram que valores relacionados à imagem da presidente foram repassados ao marqueteiro João Santana, que se responsabilizou pelo pagamento dos profissionais e serviços contratados. Mônica Moura, mulher de João Santana, já afirmou nas negociações de sua delação premiada que o casal recebeu pagamentos da Odebrecht por caixa dois (recursos não contabilizados pela campanha).

Para integrantes da força-tarefa da Lava-Jato, no entanto, mesmo que a Odebrecht inclua a informação nas próximas fases da delação, serão necessários mais elementos para que seja possível abrir inquérito para investigar o favorecimento pessoal de Dilma.

Uma das possibilidades cogitadas é a delação de João Santana e de Mônica Moura. Caso os dois confirmem o caso ou surjam novos documentos que comprovem o que foi dito pela Odebrecht, a investigação poderá avançar — Criminalmente, é necessário que haja mais elementos para que seja aberto um inquérito — explicou um investigador com acesso à negociação com a Odebrecht, segundo revelou o jornal O Globo.

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