“A publicação de desinformações tem afetado o bom funcionamento da democracia” e a crise do jornalismo “é uma crise do modelo de negócio do jornalismo. Mas não de todo o modelo de negócio, entre eles o da internet”. A declaração é do jornalista e repórter do jornal britânico The Guardian, Nick Davies*, responsável pela equipe que investigou os grampos ilegais do News of the World, jornal da News Corporation, que foi fechado em 2011, após um dos maiores escândalos da Grã-Bretanha, envolvendo diretores e jornalistas do poderoso conglomerado de mídia de Rupert Murdoch, a Scotland Yard e figuras próximas do governo.

Em entrevista ao jornal O Estado de São Paulo, Nick Davies analisa o momento atual da mídia, o jornalismo de tabloides, muito popular na Inglaterra, e fala sobre as grande reportagens que transformaram o The Guardian num dos grandes jornais do mundo, lido por milhões de pessoas.

Nos últimos anos, o jornal foi responsável por três grandes investigações: o caso Wikileaks; as escutas ilegais do News of the World, que culminaram numa grande crise para o concorrente Rupert Murdoch; e os vazamentos de Edward Snowden, da NSA. O The Guardian é dos poucos grandes jornais do mundo a manter um site aberto, juntamente com o espanhol El País, porque não se dobrou às rígidas condições impostas pela Apple para assinaturas via tablets. O jornal e o site sobrevivem em meio à crise atual da mídia pela qualidade do jornalismo investigativo.

A seguir alguns tópicos da entrevista, que pode ser lida na íntegra, no link abaixo.

-       A democracia tem sido reduzida a essas ideias e declarações bobas e sem sentido. (referindo-se a informações ruins, principalmente o jornalismo de tabloide, inclusive por meio do fotojornalismo).

-       Os tabloides apresentam (os refugiados) como sujos, inconvenientes, atrapalhando o feriado. Então surgiu aquela fotografia famosa do menino sírio de 3 anos (Aylan Kurdi) morto afogado na praia turca e isso mudou tudo. Os jornais de repente se deram conta de que eles tinham de mudar seu ponto de vista e começaram a dizer que tinham de deixar os sírios entrar.

-       Há duas coisas diferentes para se falar. Uma é sobre a democracia em si, que tem passado por um problema muito grande. Mas, se pusermos isso de lado, jornalistas também estão em um grande problema porque a internet teve um efeito muito destrutivo.

-       Os políticos estão se tornando muito espertos em manipular essas pessoas (os jornalistas). Mas acho que o caso é particularmente pior entre os britânicos porque temos uma imprensa popular muito ruim.

-       Na Grã-Bretanha os jornalistas não são nada populares.

-       Há uma conexão nessa redução da capacidade de dizer a verdade sobre as coisas importantes.

-       As livrarias estão fechando por todo o mundo e a culpa é da Amazon, mas as vendas de livros subiram porque é muito fácil comprar na Amazon.

-       Se um site de notícia publica hard News como um acidente de trem ou de avião, leitores podem obter a mesma história em milhares de outros sites. Por que eles viriam ao seu ou ao meu? Eles vêm porque temos algo que faz nossa cobertura única. ... Isso significa trazer de volta a investigação para o centro da estratégia.

Leia a íntegra da entrevista de Nick Davies, publicada em 10 de outubro, no jornal O Estado de S. Paulo.

Desinformação afeta democracia, diz jornalista.

*Nick Davies é autor do livro "Hack Attack: The Inside Story of How Truth Caught Up with Rupert Murdoch", lançado em 2014, nos Estados Unidos e no Reino Unido.

Fotos: Página do The Guardian na Internet. E Nick Davies, na sala de trabalho na redação.

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