tremHá pelo menos dois meses, a multinacional Siemens tem aparecido na mídia no bojo de um imbróglio envolvendo o governo de São Paulo, desde os anos 1990. O escândalo que colocou a empresa nas manchetes se refere à formação de cartel em licitações no Metrô de São Paulo e outros estados,  em fraudes de cerca de R$ 500 milhões, com contratos firmados entre 1998 e 2008.

A empresa tomou a iniciativa de denunciar ao Cade a formação desse cartel, de que fez parte, procurando atenuar as punições e se valer do benefício da delação premiada. Reportagem da Istoé Dinheiro (28/ago/2013) nº 828 procurou analisar até que ponto essa exposição negativa afetou a imagem da poderosa multinacional.

Charles Fombrun, no clássico livro “Reputation” diz que as organizações têm um Capital Reputacional que constroem ao longo da existência. Manter esse “capital” é um desafio permanente. Uma crise grave, mal administrada, pode afetar de forma implacável esse ativo tão importante para a imagem e a reputação das organizações.

No caso da Siemens, realmente ela construiu um forte “capital reputacional”, mas não importa o tamanho de seus negócios no mundo e tampouco a força da marca, um fato negativo atingindo a empresa, provoca um escrutínio sobre a honestidade de seus dirigentes do passado e sobre a capacidade da empresa de defender a marca, causando, certamente, arranhões na imagem e reputação dos responsáveis, incluindo os governos.

Questionado pela revista Istoé Dinheiro, a respeito do impacto na imagem da empresa, afirmamos que, por mais que a Siemens procure desvincular o escândalo da sua imagem, dificilmente passará sem arranhão, certamente com impacto nos negócios nacionais e internacionais. O fato de ter tomado a iniciativa de denunciar ao Cade o esquema de cartel não a isenta de, durante anos, ter compactuado com práticas criminosas.

Não fica claro também, salvo pela demissão do ex-presidente Adilson Primo, o que foi feito com os executivos que, no passado, se envolveram nessas práticas. A restrição da empresa a um pronunciamento oficial se, por um lado a resguarda de problemas jurídicos, porque o processo seria sigiloso, não ajuda a melhorar sua imagem na opinião pública.

A reportagem também aborda o problema da falta de comunicação interna, um erro muito comum a corporações afetadas por crises de imagem. Como se, ao omitir dos empregados explicações transparentes sobre os problemas que afetam a organização, a crise pudesse ser abafada ou reduzida. Isso é completamente errado e não ameniza de forma alguma o desgaste perante os empregados.

Não ficou claro até agora na Nota e na entrevista do Diretor Mundial de Compliance da empresa, Peter Solmssen, publicada na Folha de S. Paulo de 20 de agosto, por que a empresa durante anos aliou-se a outras organizações para fraudar esquemas de licitações em S. Paulo e no DF. Ele procurou na entrevista deixar claro que hoje a empresa não compactua com essas práticas ocorridas no passado: "As pessoas que tentarem combinar preços vão saber que nós vamos chamar a polícia". 

A Siemens se pronunciou sobre essa crise por meio de Comunicados. No início de agosto, no auge das denúncias envolvendo o governo de S. Paulo, a empresa divulgou Comunicado oficial, publicado como matéria paga nos principais jornais do país e no site da empresa.

forni isto edinheiroNele, a Siemens tenta convencer os leitores de que está colaborando com as investigações e que a iniciativa de denunciar o esquema foi dela. É uma nota bem escrita, mas pouco consistente na explicação de como a empresa está tratando internamente essa denúncia grave, de executivos e empregados terem compactuado com um crime, com o beneplácito ou não dos servidores do governo de S. Paulo. 

Em “O rumo incerto da Siemens”, a revista Istoé Dinheiro tenta explicar “como a multinacional alemã está enfrentando a mais conturbada crise de imagem de sua história e de que forma tenta recuperar sua reputação entre clientes e funcionários."

“O economista americano Douglas McGregor (1906-1964), um dos mais respeitados estudiosos da ciência da administração do último século, afirma em seu livro Aspectos Humanos da Empresa que a prosperidade de uma grande companhia depende, essencialmente, de sua capacidade de ser transparente e confiável perante seus clientes e funcionários. No sentido contrário, o pensador Henry Mintzberg, canadense considerado um guru na gestão de multinacionais, autor do livro A Ascensão e a Queda do Planejamento Estratégico, garante que o segredo do sucesso de uma empresa reside na habilidade de esconder suas estratégias de mercado e preservar, a todo custo, a hierarquia interna.”

Leia a continuação do artigo:

O rumo incerto da Siemens

Veja a íntegra da nota da Siemens sobre as reportagens:

"Siemens tem conhecimento sobre as investigações conduzidas pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE) quanto a um suposto cartel em licitações para aquisição de carros de trens, manutenção e construção de linhas de trens e metrôs licitados entre meados da década de 1990 e 2007. Causaram nos surpresa as especulações que têm extrapolado essas investigações. Alguns meios de comunicação reportaram que o Ministério Público de São Paulo, em conjunto com o CADE, teriam apurado e quantificado os danos provocados ao mercado pela conduta ora investigada e que a Siemens teria supostamente proposto um acordo ao Ministério Público de São Paulo.

Por isso, cabe à Siemens vir a público para esclarecer que não é a fonte de tais informações (nem de nenhuma das recentes notícias publicadas) e manifestar o seu desconhecimento quanto aos fundamentos de tais especulações.

Desde 2007, a Siemens tem feito grandes esforços para aprimorar seus programas de compliance em todo o mundo, tendo implementado um novo e eficaz mecanismo de controle e investigação. Como resultado de seus esforços, a Siemens alcançou pontuação de 99% no Índice de Sustentabilidade Dow Jones (DJSI). No Brasil, após extensa avaliação, a Siemens foi uma das quatro primeiras empresas a receber o Selo Ético (“Cadastro Empresa Pró-Ética”) em 2010, concedido pela Controladoria Geral da União – CGU.

Como um princípio de seu sistema mundial de compliance, a Siemens coopera integralmente com as autoridades, manifestando-se oportunamente quando requerido e se permitido pelos órgãos competentes. Tendo em vista que as investigações ainda estão em andamento, e a confidencialidade inerente ao caso, a Siemens não pode se manifestar em detalhes quanto ao teor de cada uma das matérias que têm sido publicadas pelos diversos veículos de comunicação.

A Siemens acredita que somente a concorrência leal e honesta pode assegurar um futuro sustentável para as empresas, os governos e a sociedade como um todo. Por isso, reitera seu compromisso com a ética e com a criação de um ambiente de negócios limpos, estando continuamente empenhada em dedicar todos os esforços para que os seus colaboradores ajam de acordo com os mais elevados padrões de conduta."

Esclarecimento da Siemens

Em 24 de setembro fomos procurados pela Assessoria de Imprensa da Siemens, que solicitou a publicação da carta enviada pela empresa à Istoé Dinheiro, dando esclarecimentos sobre o teor da reportagem citada acima.

Carta Isto É Dinheiro

Em relação à reportagem "O rumo incerto da Siemens" (edição 828), a empresa, preocupada com os esclarecimentos que chegam aos leitores e que possam desrespeitar os direitos das pessoas citadas no texto, esclarece que há questões importantes que foram omitidas, distorcidas ou que não correspondem à verdade dos fatos.  

A Siemens foi autorizada apenas em 16 de agosto pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE) a confirmar que é a autora das denúncias que deram origem à investigação do suposto cartel no mercado metroviário brasileiro. Temos colaborado com a investigação desde o início da apuração. Portanto, a empresa não escondeu de seus funcionários ou da sociedade qualquer informação relacionada ao caso, mas esteve impedida por quase um mês de comentar o assunto por um acordo de confidencialidade assinado com o CADE, e o fez apenas quando autorizada pelo órgão.

Ainda há confidencialidade com relação aos termos do acordo e aos documentos que o acompanham, uma vez que o caso se encontra em investigação. Em razão disso, a Siemens lamenta que a sua atitude de orientar os funcionários para que os contatos com a imprensa sejam intermediados pelo setor de comunicação a fim de evitar exposição pessoal desnecessária - recomendação comum à qualquer empresa -, tenha sido chamada, de forma equivocada pela revista, como "lei da mordaça".

Em vigor desde 2007, o programa de Compliance (Integridade e Obediência às Leis) da companhia prevê instrumentos e ações para detectar, remediar e prevenir condutas inadequadas e para reportar às autoridades competentes sempre que encontrar indícios de práticas ou suspeitas, ainda que anteriores à sua implementação. Não se trata de atitude "dedo-duro ou corrupta", como cita a reportagem.

Acreditamos que a maior parte da sociedade qualifique como transparente e corajosa a postura da Siemens de fazer proativamente a denúncia que deu origem às investigações conduzidas pelo CADE a respeito do suposto cartel.Entendemos que seja danosa a percepção de que ao fazer a denúncia a empresa esteja ferindo algum tipo de código de silêncio. O nosso compromisso é com o bem comum e não com interesses obscuros e foi com base nesse espírito que fizemos a denúncia.

Todos os nossos funcionários passam por treinamentos presencial e online sobre Compliance. Acreditamos que as premissas do nosso programa de Compliance ajudaram a dar sentido a uma situação inédita no mundo corporativo brasileiro e mostram a todos que a Siemens está sendo coerente com sua política de tolerância zero contra desvios, mesmo que do passado.

A Siemens informa, ainda, que não existiu o processo de seleção de altos executivos mencionados, nem por ela nem por seus recrutadores, muito menos com executivos provenientes das empresas citadas. Mesmo assim, reiteramos que fazer parte da Siemens hoje é sinônimo de ter coragem para fazer a coisa certa, mesmo que haja incompreensão e  turbulências no caminho. A Siemens tornou-se ainda mais atraente para profissionais que tem a integridade como base de seus valores pessoais. É esse o tipo de colaborador que mantemos e queremos atrair.  

Finalmente, reiteramos que a Siemens continuará a agir com o máximo de transparência e responsabilidade. Acreditamos que somente uma concorrência justa e honesta pode assegurar um futuro sustentável para as empresas, os governos e a sociedade como um todo.

Fabio Selhorst

Vice-Presidente de Assuntos Jurídicos & Compliance

Ilustrações: Istoé Dinheiro

siemens entenda o caso

 

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