crianca_uganda_sofrimentoUma semana para esquecer.

Se a violência já se tornou rotina no nosso dia a dia, há momentos em que ela passa dos limites. Transformados em vítimas do chamado efeito colateral das guerras e revoltas, os civis sempre acabam levando a pior, em disputas onde figuram apenas como coadjuvantes. Só que agora são as crianças os alvos preferenciais da barbárie.

Foi uma semana para ser esquecida. No Afeganistão, um soldado americano resolveu descarregar a raiva em inocentes. Matou pelo menos 16 pessoas e feriu outras cinco neste domingo na província de Kandahar. Segundo as autoridades americanas, ele sofreu um colapso nervoso. Deixou a base militar em Panjwai por volta das 3h da manhã, invadiu casas na região, e abriu fogo contra os moradores, entre as vítimas, a maioria mulheres e crianças. Desconfia-se que não agiu sozinho.

A violência não parou no Afeganistão. Ativistas sírios denunciaram na segunda-feira a morte de quase 50 pessoas em Homs, a cidade símbolo da resistência síria ao ditador Bashar Al-Assad, na noite de domingo. Entre as vítimas, mulheres e crianças. Eles acusam o regime sírio de torturar e matar os civis no principal reduto oposicionista do país.

Não satisfeitos em terem degolado crianças e mulheres, os bárbaros queimaram os corpos, não se sabe se antes ou depois do assassinato. Em vídeos publicados no You Tube, é possível ver pelo menos 11 corpos cobertos de sangue, incluindo os de quatro crianças. As imagens são chocantes.

Torturas a crianças não são novidade na repressão do governo sírio aos rebeldes. Meninos são presos e torturados, junto com adultos, segundo as organizações de ajuda humanitária. Não são raros, inclusive, casos de violência sexual nas prisões. Mártires inocentes surgem no Afeganistão, na Síria, e em vários países da África e em outros países.

O governo sírio admitiu a ocorrência das mortes no bairro de Karm el-Zeytoun, mas responsabilizou 'terroristas armados' pelo massacre. Enquanto isso, a ONU e outros organismos internacionais ficam cheios de pruridos para intervir e reprimir esses atos.

Denúncia viral

E qual foi o vídeo que bombou nas redes nesta semana? “Kony 2012,” um documentário de 30 minutos sobre o líder rebelde de Uganda Joseph Kony, o homem mais procurado do país, foi visto mais de 100 milhões de vezes nesta semana, transfomando-se no vídeo viral mais assistido da história. 

De acordo com o instituto Visible Measures, que monitora o crescimento da campanha contra o fugitivo, o documentário gerou 112 milhões de page views até segunda-feira. 

A mensagem do documentário, criado pela ONG americana Invisible Children, é simples: Kony, o líder do Exército de Resistência do Senhor (LRA, na sigla em inglês), deve pagar pelas graves violações aos direitos humanos de que é acusado, incluindo assassinato em massa, escravidão e sequestro de crianças, ao transformar meninos em guerrilheiros e meninas em empregadas e escravas sexuais. 

Mas já existem manifestações pelo mundo questionando a campanha e se perguntando por que, após tantos anos de abusos a crianças, esse rebelde não foi preso. De acordo com cientistas sociais e especialistas, o vídeo omite o fato de que o grupo de Kony lutou contra o exército de Uganda, que também cometia atos violentos, e que o governo do país também chegou a cometer genocídio em busca do líder guerrilheiro. Esse conflito teria provocado de 10 a 30 mil mortos.

A política do LRA, de alvejar civis e transformar o país numa grande guerrilha, levou o Tribunal Penal Internacional a emitir mandados de prisão em 2005 contra Kony e outros membros do LRA, acusados de crimes de guerra, crimes contra a humanidade e outras atrocidades. Segundo informações de organizações pacifistas, o LRA continua vivo, apesar dos recuos. Entre dezembro de 2008 e dezembro de 2009, ele massacrou 620 civis e sequestrou 160 crianças. Essa é a tática. Um ano depois, mais 321 civis mortos e 250 crianças sequestradas. Apesar da repulsa internacional, o líder continua foragido. Acaba virando lenda. 

Mas a idoneidade da Ong Invisible Children acabou sendo questionada. Ela teria repassado apenas uma pequena parte das doações às causas humanitárias daquele país. De acordo com informações do sociólogo e estudante de ciência política da Universidade Acadia na Nova Escócia, Grant Oyston, no ano passado a organização gastou mais de US$ 8 milhões e apenas 32% foi para o país africano. O resto, segundo o sociólogo, foi gasto em salários, viagens, transportes e produções cinematográficas. De qualquer forma, o vídeo é um soco no estômago. 

A crítica também admite que o vídeo “simplifica um problema muito complexo e muito sério”, de que a África e muitos países da Ásia são vítimas. A pobreza, a exploração de crianças e a violência não seriam limitadas e centralizadas nas barbáries de Joseph Kony. 

Mas, como diz a colunista e blogueira do jornal El País, Irene Milleiro, “É óbvio que estes problemas são complexos. De acordo com que possivelmente prender Kony não termine com a situação. Porém, tem que deter Kony. E a Al Bashir. E Mugabe. E oxalá pudesse se deter Kim Jong II. (...) Kony 2012 não vai solucionar os problemas do mundo, nem os da África Central. Porém, é uma peça a mais no tabuleiro”. 

Foto: Xavier Toya/Reuters

Assista ao vídeo de 30 minutos, se tiver coragem 

Kony 2012 – versão em inglês 

Kony 2012 – com legenda em espanhol 

Kony 2012, o por qué no quieren que cambies el mundo – Irene Milleiro 

A resposta da Ong Invisbile Children

 

 



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