João José Forni

chile_novos_protestosJovens de todo o mundo transformam 2011 no ano dos protestos. A impressionante quantidade de manifestações de rua, em apenas oito meses, não tem limites, nacionalidade, nem  possui uma única bandeira e afronta governos ditatoriais e democracias.

Os jovens do Egito, que fizeram vigília durante semanas na Praça Tahir, no centro do Cairo, ensaiavam mais um protesto contra o governo. Este, nunca levou a sério essas manifestações. Os jovens acabaram derrubando o regime ditatorial e esclerosado de Mubarak. Não se sabe ainda para onde caminha o país, até porque o movimento que começou como mais uma concentração para pedir democracia, acabou tomando proporções que nem mesmo os organizadores imaginavam. Os egípcios foram apenas um dos países árabes a se levantar contra regimes autocráticos e centralizadores, que se perpetuam no poder.

A chamada “Primavera árabe” começou na Tunísia e se estendeu à Argélia, Bahrein, Djibuti, Iraque, Jordânia, Líbia, Síria, Omá, Iêmen e outros países. Até Israel teve manifestações de rua contra a alta do custo de vida. O elemento motivador dos árabes não foi o mesmo dos jovens gregos e espanhóis, que foram para as ruas protestar contra a situação caótica das economias locais.

Grécia e Portugal, junto com a Irlanda são países quase insolventes, que precisam ser apoiados financeiramente. Para equilibrar as contas e receber apoio, precisam fazer cortes violentos nos gastos públicos, o que significa reduzir oferta de empregos, aumentar impostos e cortar benefícios. Resultado: a juventude não entende por que ela deve pagar essa conta. E vai para as ruas protestar. Com um futuro sombrio pela frente, esses jovens não acreditam mais nos governos.

No outro lado do Atlântico, o Chile também vive sua “primavera estudantil”. A impopularidade do presidente foi exposta em manifestações de rua da juventude chilena, pedindo reformas na educação. A surpresa vem de um país até agora visto como dos poucos da América Latina que vinha dando certo. Tem um alto nível educacional e uma economia estável. O sociólogo chileno Eugênio Tironi, diz que o motivo principal do mal estar não é a desigualdade em si, mas a menor tolerância dos jovens com as instituições.

Não bastasse toda essa convulsão, o mundo começou a ficar assustado quando jovens ingleses, há três semanas, foram para as ruas, após o assassinato de um operário, atribuído a policiais. Manifestações pacíficas em frente à delegacia se transformaram em protestos violentos, com atos de vandalismo, quebra-quebra e incêndios. A polícia londrina, provavelmente surpreendida pela violência dos ataques, de início ficou apenas observando. Foi para o confronto quando a escalada da violência começou a desrespeitar a propriedade privada.

A sociedade inglesa criticou a polícia e o governo pela lentidão em reprimir as violentas manifestações, que tiveram um saldo de cinco mortes, dezenas de feridos e 1.500 prisões. Após as críticas, o primeiro ministro britânico resolveu endurecer com os jovens e cortou até mesmo benefícios de famílias onde algum membro se envolveu com ataques a lojas e repartições públicas.

Chama atenção nesses protestos o fato de que muitos jovens participantes das arruaças não são desamparados ou pobrezinhos. Ao contrário, a mídia inglesa mapeou muitos deles e descobriu também, entre os arruaceiros, filhos de classe média alta, com um padrão de vida razoável e até uma atleta olímpica. O que estaria por trás desses protestos, então?

No caso da Inglaterra, a maior parte dos manifestantes, entretanto, já participou de outras arruaças e provém de bairros pobres em processo de degradação. Levantamento da Universidade de Liverpool mostra que 66% do bairros pobres, onde os acusados de depredação vivem, se degradaram entre 2007 e 2010. São os herdeiros da crise.

Os jovens se aproveitam da comoção social por qualquer motivo, para se juntar à horda e fazer quebra-quebra. É uma forma nova de se divertir e ao mesmo tempo chamar a atenção. Durante muitos anos, famílias inteiras se acostumaram a viver às custas do estado, principalmente nos países europeus. Essa festa acabou. A Inglaterra precisou fazer cortes pesados nos benefícios, fato que atingiu em cheio famílias de classe média para baixo.

Acostumados a serem paparicados pelos governos, os jovens ingleses enfurnaram-se numa bolha e pouco sabiam do que estava acontecendo no mundo. Com a crise que atingiu em cheio a economia europeia e britânica, a partir de 2008, não restou alternativa ao governo, senão anunciar um pesado pacote de medidas. O resultado viu-se nas ruas de alguns bairros de classe média baixa, nos arredores de Londres. Bem-vindos à globalização.

Ao fim e ao cabo, sociólogos e cientistas políticos têm evidenciado a necessidade de dialogar com esses jovens. O quebra-quebra, a destruição de automóveis, como aconteceu esta semana na Alemanha, é apenas a forma de chamar a atenção. Como crianças que fazem pirraça para serem ouvidos. Dizer como David Cameron, na Inglaterra, que os protestos não tinham relação com a situação econômica e são meras arruaças, é tentar simplificar as coisas. É preciso que os governos estejam atentos para as demandas desses jovens, a fim de que eles não transformem a Europa numa grande Praça Tahir.

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