Yeda_crusius1_380_x_285A crise do governo do Rio G. do Sul, centrada na pessoa da governadora, contribui para o desgaste não só da carreira política de Yeda Crusius, como afeta o desempenho geral da administração do estado. A instalação de uma CPI para investigar irregularidades, já apuradas pelo Ministério Público, agrava a crise e elege a Assembléia gaúcha como outra frente de ataque à governadora.

Para piorar, o Ministério Público Federal no RS propôs ação de improbidade administrativa contra a governadora por desvio de recursos, dano ao Erário e enriquecimento ilícito. Os procuradores federais, que movem ação de improbidade administrativa contra a governadora e outras oito pessoas envolvidas na fraude milionária do Detran, classificam o grupo como uma quadrilha criminosa na ação remetida na quarta-feira (5) à 3a Vara de Justiça de Santa Maria. O governo gaúcho reagiu com uma nota à imprensa, afirmando que os membros do MP excederam-se ao ajuizar uma ação visivelmente inadequada. A governadora quer acesso ao processo e condena a divulgação antes de ser notificada.

Essa crise se arrasta desde 2007, quando Yeda Crusius tomou posse. Logo em seguida veio o rompimento com o Vice-Governador. Em 2008, ele agravou a crise com a divulgação de gravações que serviram para pôr mais lenha nessa fogueira. Demissões de secretários, acusações de parte a parte, gravações ilícitas e até morte suspeita de um assessor da governadora, em Brasília, não faltaram nos ingredientes dessa crise.

O estopim dessa crise foi desvio de cerca de R$ 44 milhões do Detran gaúcho, descoberto em 2007.  Além disso, existem denúncias de caixa dois, uso ilegal de doações em proveito próprio e até aquisição de imóvel com dinheiro da campanha. As vozes de acusações parecem sempre soar mais fortes do que as de defesa da governadora. Seu temperamento e um discurso técnico-acadêmico não sensibilizam a opinião pública a seu favor.

Não há como uma administração trabalhar com tranquilidade, mostrar eficiência ou criatividade, com a pressão dos adversários políticos e da mídia. Há um consenso entre os estudiosos de gestão de crise de que a energia despendida para administrar as crises acaba tirando pessoas e organizações do foco principal, prejudicando a gestão e os negócios. No caso de Yeda Crusius, o rompimento com o vice-governador contribuiu para o agravamento da crise. Cada dia, se tornou pior do que o outro. Quando um político perde o apoio de ex-aliados e começa a ver suspeitos de todos os lados, fica difícil articular uma defesa.

Quanta energia o governo gaúcho gasta hoje para administrar essa crise que se arrasta há mais de um ano? A manifestação do Ministério Público diante das denúncias que foram encaminhadas à Justiça, envolvendo a própria governadora, não pode ser respondida apenas com atitudes reativas, ameaça de processo, acusações de perseguição ou de precipitação do MP. A resposta a denúncias tão graves tem que ser balizada em fatos. E fatos incontestáveis que sirvam para desmontar as acusações. A opinião pública só acredita em versões muito claras e objetivas.

Há meses a imprensa vem cobrindo essa crise e as denúncias vêm num crescendo. A governadora trabalha no córner, sob constante ataque e as reações são retóricas apenas, inconsistentes. O desgaste para o governo estadual é muito grande. E não se viu até aqui ações efetivas e explicações convincentes do executivo gaúcho que desmontem ou se contraponham ao processo denunciado pelo Ministério Público.

Mesmo para quem está longe do estado, acompanhando essa crise pela mídia nacional, a impressão é de uma situação e um governo extremamente vulneráveis, não conseguindo até o momento reverter a avalanche de acusações que foram apuradas contra a governadora e pessoas ligadas à família ou à campanha. Não há versões consistentes que pelo menos tragam o benefício da dúvida sobre as ações de Yeda e assessores.

O resultado é que a cada denúncia não explicada, multiplicam-se as pressões dos adversários políticos. Articulam-se manifestações de rua, fato extremamente negativo para a reputação de um governo. Se governar já é difícil, quando a gestão trabalha sob pressão de fatos obscuros e não explicados, a tendência é o agravamento da crise. Se o preço que a governadora vai pagar por essa crise mal administrada for somente renunciar às pretensões de uma reeleição, a esta altura dos acontecimentos pode ser até barato. Diante da pressão da CPI, do Ministério Público, de políticos da oposição e da opinião pública, os rumores de impeachment parecem cada vez mais reverberar nos pampas gaúchos.

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