diario_menor_inglesA crise econômica não causou estragos apenas nas contas dos governos e empresas. O desemprego afetou muita gente. Mas parece ter atingido mais as famílias de classe média e renda baixa. Desestruturados profissionalmente, os pais, com baixa autoestima, não conseguem manter a família unida. Com isso, um subproduto da crise, constatado por psicólogos e autoridades, é o aumento da violência juvenil, principalmente em países desenvolvidos como Inglaterra, França e Itália.

A tradicional sociedade britânica está perplexa com os casos mais recentes, envolvendo crianças e adolescentes. Um dos crimes mais chocantes aconteceu em abril, mas só agora os agressores enfrentam a justiça. Dois irmãos, de 10 e 12 anos, torturaram e submeteram dois outros garotos, de 9 e 11 anos, a constrangimentos sexuais, com requintes de perversidade. As vítimas só se salvaram porque foram socorridas a tempo. Os torturadores são filhos de famílias desestruturadas e até os vizinhos tinham medo deles. O garoto mais velho, gravemente ferido, foi salvo porque o mais novo arrastou-se até uma rua e conseguiu pedir socorro. “Ele foi cortado da cabeça aos pés”, disse seu pai. “Eles estavam realmente tentando matá-los”.  

O crime, chamado de “O horror de Edlington”, pela mídia britânica, expõe uma realidade que preocupa as autoridades da Inglaterra e demonstra a impotência da polícia para contê-la. São crianças que nem chegaram à adolescência e deveriam estar sob a vigilância dos pais e não da polícia.

Um dos meninos agredidos mantinha um diário, onde narrava as ameaças que recebia. Eles já haviam escapado de serem feridos pelos mesmos algozes, após um jogo em que estiveram juntos. A interferência de um adulto, dias antes do ataque mais violento, evitou que eles fossem agredidos. Eles conseguiram fugir. E quem são os algozes? Filhos de pais separados, alcoólatras e desempregados. Viviam mais na rua, do que em casa. A mãe dos meninos tinha tanto medo de confusão com eles, que colocou uma placa na portão de casa, semelhante ao usado para alertar sobre cães ferozes: “Cuidado com os meninos”!

Como prevenir e, depois, punir crimes dessa magnitude envolvendo crianças? O tradicional jornal The Times, em editorial de 4/09 , disse que “a terrível tortura e abuso sexual infligidos por dois meninos a outras crianças em Edlington é uma terrível recordação do mal que pode resultar da negligência paterna, violência doméstica, serviços sociais inadequados e trabalho descuidado da polícia”. Segundo o Times, é muito difícil acreditar que tais coisas possam ser feitas por crianças tão novas numa sociedade rica e educada.

Fogo no carro

O suicídio de uma mãe, junto com sua filha, portadora de doença celebral, ateando fogo ao carro, também voltou a incomodar a Inglaterra na semana passada, quando o promotor resolveu ouvir testemunhas do episódio ocorrido em outubro de 2007. Esse caso surpreendeu, não tanto pelo suicídio em si, mas pelos motivos que teriam levado a mãe ao gesto desesperado: ameaça de gangues. A mãe, além de vários registros policiais, deixou escrito e havia dito a vizinhos que não suportava mais as humilhações e ameaças contra ela e os dois filhos feitas por gangues de menores.

A polícia de Leicestershire, na Inglaterra, também foi chamada pelo promotor, para explicar porque não agiu corretamente nesse caso. Uma mãe, aterrorizada durante dez anos pelas gangues locais, alertou a polícia 33 vezes sobre as ameaças. Adolescentes de gangues quebraram sua janela, mexiam com a filha e batiam no seu filho menor. Depois da violência, os jovens ainda ameaçavam, porque não temiam nada. A polícia limitava-se a fazer averiguações, mas nunca investigou com profundidade.

Num ato de desespero e impotente, a mãe preferiu morrer com a filha, totalmente dependente dela. Deixou o filho sozinho e partiu para um estacionamento deserto na cidade, junto com o coelho de estimação. Colocou gasolina dentro do carro e o incendiou. Ninguém viu.

Agora, quando a sociedade se questiona onde errou, a polícia local está sob pressão do promotor e da comunidade. Por que, depois de tantos avisos, nada foi feito contra os delinquentes, que teriam levado a mãe ao ato de desespero? E por que eles continuam lá, impunes? O colunista Libby Purves, perguntou, em artigo no Times de 21/09, “parece que lamentavelmente você tem que morrer para chamar a atenção. Nós somos forçados a admitir a difícil possibilidade de que a Inglaterra não é mais competente para defender os mais fracos da perseguição. Mesmo por crianças”.

O pior desse inquérito é que as autoridades policiais classificaram o crime como “comportamento antissocial”, quando deveria ser um crime, segundo a promotora. Ou seja, a omissão começou na investigação e no desleixo antes do crime e prosseguiu depois, nas conclusões.

A mídia britânica dá muito destaque a esses casos, com grandes coberturas, porque evidencia uma fissura no tecido social da Inglaterra. O bullying entre adolescentes, por exemplo, o triste costume de “gozar” com os outros, geralmente explorando uma fraqueza, um defeito e até mesmo a raça,  é outra forma de agressão entre os jovens. Na semana passada, em Gloucestershire (Inglaterra), uma adolescente de 15 anos, Holly Grogan, suicidou-se, atirando-se de uma ponte, porque não agüentava mais os abusos ou “bullies” que lhe impingiam pelo site de relacionamentos Facebook. São as vítimas, agora, de um novo tipo de violência, a cibernética.  Os pais da adolescente atribuem seu suicídio à “profunda pressão” e “moderna complexidade” das redes sociais da internet.

Pedágio para não apanhar

E no Brasil, é diferente? No último domingo, o Fantástico, da Rede Globo, denunciou escolas do interior de S. Paulo onde impera a violência contra professores e alunos. Citou o caso de uma criança que chegava em casa com marcas, fruto de agressões físicas de gangues de colegas. Os marginais exigiam pagamento para não agredir o menino. Ou pagava, ou apanhava. Os agressores pertencem à própria escola do menor agredido.

Lá, como cá, acontece uma crescente perda de respeito pela instituição escola. O que contribuiu também para a degradação do ensino e da formação dos jovens. A violência juvenil é mais um subproduto do desleixo dos governos com a educação. A crise das escolas e da educação é um tema interessante para ser explorado em outro espaço. Afinal, vivemos num país em que um motorista do Senado ganha salário superior a R$ 2 mil e um professor-adjunto de universidade federal não ganha nem R$ 500,00. O que poderíamos esperar de distorções como essa?

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