inundacao_400_x_300Barragem estoura no Piauí, depois de vistoria. Presidente do Senado se desculpa por ter recebido auxílio-moradia. Ministro do Meio Ambiente bate boca pela imprensa e tromba com ruralistas e colegas de ministério. Conversa dos presidentes Lula e Chaves vaza. Multinacional do esporte faz festa em templo nazista. Petrobras cochilou e CPI pauta imprensa sobre negócios da empresa.  Finalmente, o pior que pode acontecer a uma empresa aérea, um acidente de grandes proporções: a tragédia do AF 447.

Alguém consegue acompanhar tantas crises? Difícil.  Mas a maioria delas tem algo em comum. Incompetência, descaso com o dinheiro público, falta de gestão de risco e de um melhor planejamento das ações. No caso do acidente, até agora uma incógnita que poderá durar muitos meses e até anos, pela dificuldade de uma apuração.

Ministro midiático tromba com ruralistas

O Ministro Carlos Minc desde a posse tem se notabilizado tanto pelos extravagantes coletes, quanto pelas brigas com os colegas de ministério. Até boi no pasto ele prendeu. Os bois acabaram arrematados por uma empresa multada pelo Ibama. Triste ironia. Os desencontros na Esplanada dos Ministérios começaram com o ministro da Agricultura, por conta de fazendas de gado na Amazônia. Lula mandou os dois calarem a boca.

Também divulgou uma lista dos principais desmatadores da Amazônia, em que constava o Instituto Nacional da Reforma Agrária-Incra na cabeça da relação. O fato, além do ridículo, rendeu manchetes internacionais. “Adivinhe quem é o principal destruidor da Amazônia? “ perguntavam. “O governo brasileiro”. Diante do fiasco, o ministro alegou não ter visto a relação antes de divulgá-la.

Agora, ele continua a disparar seus torpedos. Chamou os empresários do agronegócio de “vigaristas” e mirou o Programa de Aceleração do Crescimento(PAC), atingindo mais três ministros: Dilma, Lobão e Alfredo Nascimento. Acusou os colegas de ministério de não respeitarem os acordos e fazerem jogo duplo no Congresso. “Combinavam uma coisa aqui (com Lula) e depois iam ao Parlamento, cada um com a sua machadinha, patrocinar emendas que esquartejavam e desfiguravam a legislação ambiental”, disse ele.  Com isso, arrumou vários espaços na mídia. Aliás, é o de que ele mais gosta. Para nós, contribuintes, importa saber se os madeireiros clandestinos estão sendo presos e multados e se a Amazônia está ardendo menos.

A bancada ruralista, que não gosta de ver seus interesses contrariados, pediu a cabeça do ministro. Enquanto essa brga de mocinho e bandido não acabar, o ministro do Meio Ambiente continua na mídia. Pelo novo visual que agora ele ostenta, por enquanto quem dançou foram somente os coletes.

O pedido de desculpas de Sarney

Triste, se não fosse patético. Político tarimbado, ex-presidente da república, acadêmico, escritor. Foi deprimente ver a figura do Senador José Sarney reconhecer na televisão que recebia auxílio-moradia irregularmente. E pedir desculpas por ter negado a informação alguns dias atrás. A imprensa tinha divulgado que Sarney e outros senadores recebiam auxílio-moradia, mesmo morando em residências próprias ou oficiais.

“Nunca pedi auxílio-moradia e, por um equívoco, a partir de 2008 começaram a depositar na minha conta o auxílio-moradia”. Embora com pedido de desculpas, não consta que tenha prometido devolver o que foi pago irregularmente. Continuamos esperando.

Barragem da incompetência

O estouro da barragem de Algodões, em Cacoal, no Piauí, na semana passada, foi o triste desenlace de uma série de erros de gestão. Correndo risco de estourar, devido às enchentes na região, a barragem se transformou num risco para as populações locais. Foi vistoriada. No início de maio, os próprios moradores alertaram as autoridades sobre o perigo de estouro. Os engenheiros constataram o risco e recomendaram medidas preventivas para evitar o rompimento, como preenchimento de infiltrações e drenagem em alguns pontos.

De início, chegou-se a retirar moradores muito próximos. No dia 14 de maio, diante da ameaça real de rompimento, começou um plano de evacuação, mas as autoridades não acreditavam ainda na tragédia. Dia 28 de maio, o pior. A barragem se rompe, mata oito moradores e destrói tudo que está abaixo do vertedouro. O governador do estado comparou o rompimento a um “tsunami com destruição total”. Em menos de uma hora, 50 bilhões de litros de água varreram a região. Depois de retirar 800 famílias, a defesa civil autorizou a volta de alguns moradores, confiando que poderia conter o rompimento. Erro clamoroso e que poderia ter pelo menos amenizado a tragédia e evitado prejuízos incalculáveis à flora, fauna e o pior, a perda de vidas humanas.

Enquanto se determina “rigorosa apuração”, pode-se assegurar que a incompetência de quem deveria zelar pela segurança dos moradores foi responsável pela tragédia. É o tipo de crise que o governo do Piauí poderia ter evitado ou pelo menos amenizado.

Adidas explica suástica em festa, mas não convence

Coincidência ou não, a fábrica de material esportivo Adidas alugou uma casa na Gávea, Rio de Janeiro, para uma festa. Convidou também jornalistas. Um blogueiro e alguns convidados perceberam símbolos estranhos na casa. Os azulejos ao redor da piscina eram decorados com desenhos iguais à famosa suástica nazista. Dentro da casa, a pintura de um quadro reproduzia um oficial com o uniforme do III Reich. Num dos bares da festa, foi encontrado um pôster da marinha nazista.

Um grupo de pessoas, diante da descoberta, abandonou a festa em protesto. Os blogueiros não tiveram dúvidas. Publicaram as fotos e divulgaram o estranho achado. “Havia uma memorabilia nazista naquela casa”, disse um dos blogueiros. Durante a noite, as imagens já estavam circulando na internet. No mundo das redes sociais, a reputação vai para o brejo em questão de minutos.

A cantora Thalma de Freitas, curadora da festa, alegou desconhecer a existência de elementos nazistas da casa, quando foi convidada para organizar a Adidas House Party. “O que vimos era chocante, para dizer o mínimo.” Em comunicado, a Adidas informou que desconhecia que “a casa tinha adereços que pudessem ser relacionados ao nazismo”. E que, se soubesse, “solicitaria a pronta retirada dos mesmos ou a mudança do local do evento”.

Segundo o jornal O Globo, a casa alugada para eventos pertence ao advogado Luiz Fernando Penna. Penna, que é colecionador de obras de arte, disse ao jornal que comprou as peças - há 15 anos, de um ex-combatente da 2ª Guerra. Negou que os símbolos na piscina façam referência ao nazismo. “Aquilo é um friso, uma espécie de grega, decoração muito usada na Grécia e na China.”

Tudo bem, tudo bem. Mas não custa perguntar: a Adidas e a curadoria contratam uma festa e não fazem antes uma vistoria no local, para ver em que cumbuca estão se metendo? As explicações não convencem.

Conversa vaza e Lula anuncia seu próximo cargo

Conselho de um câmera de TV: nunca fale o que não gostaria de ver publicado  onde existe uma câmera ou microfone. Mesmo desligados. Embora tenha sido cochilo da equipe de som, que organizou encontro de Lula e Chaves em Pernambuco, os presidentes ignoraram esse conselho. “Se eu conseguir eleger a Dilma, vou ser o presidente da Petrobras. E você, Gabrielli, vai ser meu assessor, e o acordo será fechado”, disse Lula.

Lula referia-se às dificuldades de negociação entre a PDVSA e a Petrobras para a construção da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco. O diálogo foi escutado pela imprensa, presente ao encontro, em outra sala, porque os microfones estavam abertos. Chaves reclamou dos entraves para fechar o negócio. A discussão girou em torno dos pontos que não são consensuais entre as duas empresas.

A falta de cuidado da equipe de som não deve ser motivo para a assessoria do presidente cochilar. Ou seria bom presidentes quando falarem reservadamente evitarem eventos públicos.  Como aconteceu, foi preciso explicar para a imprensa provavelmente aquilo que não estava previsto explicar e o que, certamente, o governo não queria que vazasse.

Petrobras minimizou possibilidade de CPI

Se a Petrobras, junto com a base política do governo, estivesse mais atenta, poderiam ter evitado a instalação de uma CPI para investigar a empresa. Embora as CPI dos últimos anos tenham se transformado num festival de vaidades para aparecer na imprensa, e nada tenham de conclusivo, ter o nome vinculado a uma CPI sempre dá desgaste de imagem.

Durante alguns meses, já num clima pré-eleitoral, a oposição certamente vai querer fazer barulho com as investigações das atividades da empresa. Vai se gastar muita energia em depoimentos, discussões, debates e entrevistas. E pouco vai contribuir para o futuro da Petrobras, até porque o governo já armou a tropa de choque para impedir aprofundamento de qualquer investigação.

A exemplo do que aconteceu na CPIs dos bingos, do apagão aéreo e tantas outras, quando as investigações chegam perto de alguém fiel ao governo, independentemente do partido, desvia-se o foco para os governos anteriores. É uma maneira de dizer: não mexam comigo, porque vou mexer contigo. Vai ter desgaste sim, mas provavelmente será mais uma pizza servida pelo Congresso Nacional. Ninguém quer apurar nada. Só fazer marola.

A análise e os comentários sobre o gerenciamento da crise da Air France foram colocados em outro Post.

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