Big_ben_noite_589_x_390Claro que não foi no Brasil. A crise do Parlamento britânico, com denúncias de gastos irregulares de verbas extrassalariais e auxílios-moradia, levou o presidente da Câmara dos Comuns, Michael Martin, a renunciar. Sua conta de reembolsos inclui até uma cadeira de massagem de mil dólares. Numa imitação grotesca do deputado brasileiro Sérgio Moraes, ele também se lixou para a opinião pública, ao dizer que não tinha cometido erro algum e que, ao contrário de colegas, não iria devolver dinheiro aos cofres públicos.

Apesar de não estar diretamente envolvido em nenhuma denúncia grave, ele saiu porque defendeu a situação atual de privilégios. Por ser indulgente com os erros e não por ser corrupto. O episódio causou grande repercussão no Reino Unido, até porque a última vez em que ocorreu uma renúncia de presidente da Câmara dos Comuns foi em 1695. Martin cometeu um erro primário e muito comum nos nossos dirigentes. Estava mais empenhado em abafar o escândalo e descobrir como ocorrera o vazamento de informações para o jornal The Daily Telegraph do que com a limpeza da casa e reformas do sistema.

No dia 15, o Vice-ministro da Justiça britânico Shahid Malif também renunciou, após ser acusado de ferir o Código de Conduta dos Ministros sobre gastos pessoais. A denúncia do The Daily Telegraph acusava Malik de pagar aluguel muito abaixo do valor de mercado por uma casa na região West Yorkshire, centro da Inglaterra. Por trás disso, havia acertos com o proprietário. O primeiro ministro Gordon Brown pediu uma investigação e o porta-voz britânico disse que a expectativa é de que o vice-ministro volte ao posto, se for considerado inocente.

A onda de escândalos na Inglaterra nas últimas semanas envergonhou o Partido Trabalhista. Entre as últimas crises, envolvendo personalidades públicas, destacam-se: a ministra para as Comunidades, Hazel Blears, declarou três propriedades diferentes como ”sua segunda residência” no período de um ano, usando dinheiro público para mobiliar ou pagar juros sobre a hipoteca das casas. No final do período, ela vendeu uma das propriedades lucrando 13 mil libras.

Douglas Hogg, ex-ministro conservador, pediu reembolso de quase US$ 22 mil em salários pagos para sua governanta. Outro pediu reembolso do dinheiro gasto para comprar comida para cachorro e até para papel higiênico. Uma promotora de justiça quis restituição dos enfeites da árvore de Natal. Membro do Partido Conservador lucrou 320 mil libras com a venda de um apartamento comprado com o dinheiro do contribuinte.

A sucessão de escândalos envolvendo membros do Parlamento os transformou em caso de polícia. A Scotland Yard e o Ministério Público anunciaram que uma comissão de oficiais e advogados vai examinar a lista de pedidos de reembolso.

A maneira mais prática que o primeiro ministro Gordon Brown e os representantes do Parlamento acharam para se livrar da crise foi a demissão dos envolvidos.

No Brasil todo mundo fica e se lixa

Pedir ressarcimento de despesas que consideram pessoais com o dinheiro público aqui não é novidade. Nem na Inglaterra. No início do ano, membros do Gabinete do Primeiro Ministro explicavam despesas com táxi utilizadas para corridas particulares.  Imagina se fosse aqui.

Parlamentares utilizam passagens aéreas para viagens particulares. Jornal descobre Senador usando o carro, com gasolina e manutenção paga por nós, para levar a mulher ao cabeleireiro, ao shopping, pegar filho no colégio. Um deputado é flagrado pagando cerca de R$ 230 mil para empresa de segurança de sua propriedade, utilizando verba da Câmara dos Deputados.

Não se ouviu até agora nenhum comentário sobre demissões de qualquer parlamentar.  Parece que a crise não é com eles. Desacreditam a casa, passam a sensação de impunidade e alguns, como o já famoso deputado Sérgio Moraes (PTB-RS), vangloriam-se no programa Jô Soares de que sua popularidade na cidade-berço cresceu depois que começou a  aparecer na mídia. Afinal, o que pensam Suas Excelências, como diz Lúcia Hippolito? Será que eles nos julgam todos uns otários? E a Comissão de Ética? Está mais preocupada em eleger seus membros, do que analisar a conduta dos pares.

Como eles têm a sensação ou até a certeza de que tudo isso não vai dar em nada, continuam no mesmo lugar. Assim também nos governos, tanto federal, quanto estaduais e muncipais. Pessoas são investigadas pela Polícia Federal, acusadas de malversação do dinheiro público em outros cargos, e continuam na mesma, sem sair, sem se envergonhar.

Na recente crise econômica, vários empresários na Europa, na Ásia enos Estados Unidos,0 chegaram ao limite de se suicidar, porque não aguentaram a pressão da imprensa e dos sindicatos, quando suas empresas foram à bancarrota. Isso aconteceu na Alemanha, no Japão. É um gesto extremo, condenável, mas que demonstra como a acusação de qualquer natureza envergonha as pessoas.

Ninguém está sugerindo suicídio coletivo. Mas da forma como ninguém leva a sério as denúncias é certo que daqui a um ano estaremos novamente discutindo e falando do mesmo assunto. Porque neste exato momento, alguém no governo, em alguma esfera dos três Poderes, está cometendo algum delito. Está ultrapassando o sinal. Certo de que não vai acontecer nada. Quando muito terá 15 minutos de glória no Jornal Nacional, da Rede Globo, quando a Polícia Federal estourar outra operação, dando explicações, ao lado de um advogado, de que tudo isso é uma injustiça, vai provar que é inocente e, ainda, irá processar seus detratores. E todos vão para casa como se nada tivesse acontecido.

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