supremoO furo do jornal O Globo, em 23 de agosto, flagrando diálogos privados  no e-mail de ministros do STF dá margem a inúmeras discussões. De um lado, aqueles que defendem a liberdade de opinião, sempre que a atuação do jornalista seja relevante para o leitor e estiver comprometida com o interesse público. De outro, os que se apressam em condenar todos os métodos utilizados pela imprensa para conseguir informação. Não escapam câmeras escondidas, gravações telefônicas com autorização judicial, mas para apurar crimes, ou outros flagrantes, intencionais ou não, como as fotos registradas na sessão do STF pelo fotógrafo de O Globo.  O que estaria em jogo é a privacidade das autoridades. Afinal, existem limites para a invasão de privacidade? É o eterno conflito entre o direito ou dever da imprensa de descobrir e publicar novidades e o de pessoas públicas desejarem ter a privacidade respeitada.

A discussão em torno do vazamento, que foi o tema de blogs, comentários na TV, jornais e revistas, na semana passada, além de críticas da OAB, procura entender se os ministros do STF foram vítimas de invasão de privacidade. Eles estavam numa sessão pública, aberta à imprensa, com o computador aberto, trocando e-mails. Será que o repórter-fotográfico exagerou e fotografou o que não devia?

Nada contraria o código de ética dos jornalistas. Não há dúvida de que o repórter-fotográfico fez a sua parte, como qualquer repórter faria. O tema da reunião era de interesse público. Não era uma sessão privada. Os ministros abriram a reunião para a cobertura da imprensa. Tudo ali era público.

Existe uma confusão de autoridades sobre esses limites. Governador, Senador não deixam de ser autoridades porque estão passeando no shopping, em companhia da família ou de qualquer outra pessoa. Se cometerem um deslize, será tratado no limite dos cargos que ocupam. Se a autoridade pública quiser ter a vida totalmente preservada, não deveria ter-se tornado pública.

Se analisarmos pelo lado da fonte, o episódio da gravação no STF, como outra bem recente - câmera de TV flagrando assessor especial da presidência fazendo gestos obscenos, ao assistir reportagem do Jornal Nacional - mostra o cuidado que as autoridades devem ter com atos públicos. Quem desempenha cargo público está exposto o tempo todo. Não deve, portanto, agir, escrever ou até mesmo falar ao telefone conteúdos que não gostaria de ver publicados. No governo anterior, gravações também flagraram diálogos bastante suspeitos, que levaram à queda de ministros e presidentes de bancos.

A tecnologia veio para facilitar a vida de todos nós. Mas assim como facilita a vida de fraudadores, hackers e estelionatários, escancara também a atuação das autoridades. A gestão de crise ensina que o executivo deve estar vigilante o tempo todo com o que faz, com o que diz. A infeliz frase da Ministra do Turismo, sobre o caos aéreo, recentemente; da diretora já demitida da Anac, aos se referir às vítimas do acidente da Gol; e, mais recentemente, a do presidente da Philips sobre o estado do Piauí, são exemplos de que todo o cuidado é pouco. A carreira dos executivos pode ficar marcada por uma frase infeliz, por um gesto impensado. E aí não existe gestão de crise que resolva. Isso tudo tem a ver com reputação e a mídia não perdoa.

Não podemos esquecer que todos os nossos passos hoje são acompanhados por câmeras, livros de controle nas portarias, fotos, registros e “pardais”.  Para quem não sabe, lembre-se de George Orwell, 1984 é aqui, agora.

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