Guerra na Ucrânia NYTA Guerra Ucrânia-Rússia completa um ano. “À medida que nos aproximamos do primeiro aniversário da invasão em grande escala da Ucrânia pela Rússia - e a feroz resposta ucraniana apoiada por uma coalizão ocidental liderada pelos EUA - a seguinte pergunta precisa ser respondida com urgência: como é que em 23 de fevereiro de 2022, praticamente ninguém na América estava argumentando que era do nosso interesse nacional entrar em uma guerra indireta com a Rússia para impedi-la de invadir a Ucrânia, um país que a maioria dos americanos não conseguia encontrar em um mapa em 10 tentativas?”

Vamos lembrar que em fevereiro do ano passado, os EUA viam a invasão da Ucrânia como um problema político europeu, como aconteceu em 2014, quando Putin comandou a invasão da Crimeia. Melhor ficar de fora e esperar como isso vai evoluir. 

“E agora, quase um ano depois, as pesquisas mostram sólidas (embora ligeiramente reduzidas) maiorias americanas para apoiar a Ucrânia com armas e ajuda, mesmo que isso arrisque um conflito direto com a Rússia de Vladimir Putin.”

A perspectiva de Putin e os generais russos é que a invasão seria um ‘passeio’, como foi a tomada da Crimeia, até hoje um problema não resolvido. Algumas reações internacionais e os russos foram ficando. Mas, na primeira semana da guerra em 2022, o cenário começou a mudar, com a mobilização internacional a favor da Ucrânia, como se as botas russas no território livre dos ucranianos fosse uma afronta e um desrespeito a todo o mundo ocidental. 

Quem vê um cenário pior no segundo ano de guerra, ao assistirmos envolvimento e pronunciamentos cada vez mais belicosos de Biden e Putin, é o comentarista político e colunista de opinião do New York Times, Thomas Friedman*, num artigo em que faz uma cáustica análise do recrudescimento belicoso não apenas na Ucrânia, mas em todo o mundo, principalmente pela polarização cada vez mais preocupante entre China e Estados Unidos.

Destacamos aqui alguns tópicos da densa análise do colunista americano. Quem quiser acessá-lo na íntegra, no fim deste post, há dois links para a versão em inglês e em português.

“Durante o primeiro ano desta guerra, a coisa foi relativamente fácil para os EUA e seus aliados. Os americanos foram capazes de fornecer armas, ajudas e inteligência — assim como impor sanções sobre Moscou — e os ucranianos fizeram o resto, arruinando o Exército de Putin e empurrando suas forças de volta para o leste da Ucrânia. Não acho que o segundo ano será assim tão fácil.”

“Putin está basicamente dizendo o seguinte a Biden: Não posso me permitir perder esta guerra e pagarei qualquer preço e suportarei qualquer sacrifício para garantir que ficarei com um pedaço da Ucrânia que possa justificar minhas baixas. E você, Joe? E seus amigos europeus? Vocês estão dispostos a pagar qualquer preço e suportar qualquer sacrifício para manter a “ordem liberal”?

 O papel dos EUA na guerra da Ucrânia

Biden na Ucrania“Há um novo livro importante que coloca esse desafio em um contexto histórico maior. Em The Ghost at the Feast: America and the Collapse of World Order, 1900-1941 (O fantasma no banquete: Os EUA e o colapso da ordem mundial, 1900-1941), o historiador Robert Kagan, da Brookings Institution, argumenta que, por mais espasmos isolacionistas que os americanos possam ter, a verdade é que, pelo menos ao longo do século recente ou pouco mais, a maioria deles apoiou a aplicação do poder dos EUA para forjar uma ordem mundial liberal que mantinha o mundo inclinado para sistemas políticos e mercados abertos em cada vez mais lugares, de cada vez mais maneiras e cada vez mais frequentemente — o suficiente para impedir que o mundo se tornasse uma selva hobbesiana.”

Friedman continua, no artigo:

“No meu livro”, afirmou Kagan, “eu cito o discurso sobre o Estado da União de Franklin Roosevelt de 1939. Em um momento em que a segurança dos EUA não estava de nenhuma maneira ameaçada — Hitler ainda não tinha invadido a Polônia, e a queda da França era quase impossível de imaginar — Roosevelt insistiu que havia, contudo, momentos ‘nos assuntos dos homens em que eles devem se preparar para defender não apenas seus lares, mas os princípios de fé e humanidade sobre os quais são fundados suas igrejas, seus governos e sua civilização’. Em ambas as guerras mundiais, e ao longo de toda a Guerra Fria, os americanos agiram não em autodefesa imediata, mas para defender o mundo liberal contra desafios de governos militaristas e autoritários, assim como estão fazendo hoje na Ucrânia”.

Mas por que apoiar a Ucrânia nesta guerra não atende apenas o interesse estratégico americano, mas também está em linha com os valores americanos? Pergunta o autor, no artigo, para o historiador e autor Robert Kagan.

“Os americanos têm dificuldades contínuas para conciliar interpretações contraditórias de seus interesses — um com foco em segurança dentro do país e outro com foco na defesa do mundo liberal para além das fronteiras americanas. O primeiro dialoga com a preferência dos americanos em ser deixados em paz e evitar os custos, responsabilidades e fardos morais de exercitar poder no exterior. O segundo reflete suas ansiedades enquanto um povo favorável à liberdade, sobre se tornar o que Franklin Delano Roosevelt qualificou como uma ‘ilha solitária’ em um mar de ditaduras militaristas. A oscilação entre essas duas perspectivas produziu tropeços recorrentes na política externa americana do século passado.”

“A Rússia após a Guerra Fria desfrutou de mais segurança em sua fronteira ocidental do que em qualquer outro momento na história, mesmo com a expansão da Otan. Mas Putin tem se mostrado disposto a tornar a Rússia menos segura para cumprir as ambições tradicionais da grande potência russa, ambições que têm mais a ver com honra e identidade do que com segurança”. O mesmo parece verdadeiro para o presidente Xi Jinping em relação a recuperar Taiwan.”

 “Mas também há muitas vozes da esquerda perguntando legitimamente: Vale mesmo a pena arriscar a 3.ª Guerra Mundial para retirar a Rússia completamente do leste da Ucrânia? Nós já não machucamos Putin tanto, ao ponto dele não tentar mais nada na Ucrânia novamente no futuro próximo? Chegou a hora de um acordo sujo?”

 “Putin está no processo de militarizar completamente a sociedade russa, muito parecido com o que Stálin fez durante a 2.ª Guerra. Ele joga a longo prazo e conta com que os EUA e o Ocidente fiquem cansados diante da perspectiva de um conflito prolongado — como isolacionistas tanto de esquerda quanto de direita do Instituto Quincy e no Congresso já indicaram estar.

“Não há dúvida de que os EUA são falíveis e certas vezes usam seu poder de maneira insensata. Mas se você não é capaz de encarar francamente a questão do que aconteceria no mundo se os EUA não agissem no exterior, você não está levando essas questões difíceis a sério.” 

 Foto: Lynsey Addario – The New York Times

 * Thomas Loren Friedman é um comentarista político e autor americano. Ele é três vezes vencedor do Prêmio Pulitzer e colunista semanal do The New York Times.

Leia o artigo completo no The New York Times

Year Two of the Ukraine War Is Going to Get Scary

Leia o artigo completo no jornal O Estado de S. Paulo

O segundo ano da guerra na Ucrânia será assustador

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