Francisco Viana *
O que vai restar do Rio de Janeiro? Essa é a indagação que sugere a prisão, pela Polícia Federal, do presidente da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, sob acusação de integrar a “confraria saqueadora” em esquema com as empresas de ônibus. A estimativa, segundo o jornal Folha de S. Paulo, é que as propinas somem algo como 500 milhões, gastos para comprar deputados estaduais e conselheiros do Tribunal de Contas do Estado.
Chovem acusações contra antigas lideranças políticas. O ex-governador Sérgio Cabral, por exemplo, está preso há quase um ano; Luiz Fernando Pezão, o atual governador, não está preso, mas pode ser. Também, Eduardo Paes, ex-prefeito, é acusado de organizar um caixa clandestino com dinheiro de empreiteiras e da máfia de ônibus. Também, não escapou da prisão, o ex- governador Antony Garotinho. Antes foi a Petrobras (a origem de tudo) e ainda rolaram cabeças coroadas como a do empresário Eike Batista.
Outrora cidade maravilhosa, de encantos mil, hoje é uma cidade das maracutaias mil: falida, sem lideranças e tomada de assalto pela violência. Cresce o desemprego e as crises se sucedem: crise na segurança, crise na saúde, crise nos transportes... Crises por toda parte. Inclusive nos esportes, leia-se FIFA.
Foi-se o tempo em que o Rio era cantado em prosa e verso. Hoje, a questão é: o Rio acabou? Ou tem saída? O diagnóstico é simples: as chamadas elites políticas estão em crise. E não têm outra saída senão pedir desculpas à população e pegar cadeia braba. É preciso que novas gerações assumam o comando e que a população se mobilize em defesa da probidade. É em nome desse princípio que as elites políticas devem agir. Parece etéreo, mas não é. Pensar no outro e virar as costas ao egoísmo é o princípio de tudo. Pensar que pode existir elite política sem ética foi o que fez com que a elite política carioca acreditasse que, porque detinham o poder, nada a pudesse ameaçar. É o sentimento de impunidade que abre as portas para a corrupção.
A elite carioca leu o tempo erradamente. Naufragou no pântano das maracutaias. E junto pode levar toda uma geração com ela. O Rio de Janeiro não acabou. Só precisa renascer. Campanhas publicitárias somadas à ação revitalizadora certamente podem ajudar.
*Francisco Viana é Jornalista e doutor em Filosofia Política (PUC-SP).
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