proteção*João José Forni

O tema não é novo nesta Folha. Mas convém voltar a ele. O que estão fazendo os adultos, incapazes de proteger nossas crianças? Se não, vejamos em uma semana o que aconteceu no Brasil.

Em Brasília, na semana passada, uma menina de dois anos morreu afogada na piscina da escola, no segundo dia da aula de natação. Escapou do olhar de quem devia cuidá-la e entrou na piscina mais funda. Quando descoberta, o socorro foi tardio. Estavam com ela pelo menos dois professores e três assistentes, junto com mais dez coleguinhas. Era filha única de um casal que há 15 anos fazia tratamento para realizar o sonho de ter filhos.

Domingo, dia 10, em Caranguatatuba (SP),  outra menina de três anos morreu, após ser socorrida, depois de ser encontrada com parada cardiorrespiratória, dentro do veículo dos pais. O carro estava com as portas trancadas, na garagem da casa. Os indícios são de morte por asfixia. Os pais tinham ido a um show e estavam dormindo. Ela estava sob a guarda da avó e de mais uma criança.  No litoral de S. Paulo, menina de seis anos caiu da janela do apartamento, no 6º andar, enquanto a mãe foi fazer compras. Ela estava só,  na companhia do irmãozinho.

Foi apenas isso? Não. Certamente, outras tragédias envolvendo crianças povoaram as últimas semanas no Brasil. Nos arredores de São Paulo, outro pai foi autuado, após deixar os dois filhos, de nove e oito anos, acorrentados em casa, enquanto ele trabalhava. Segundo ele, as crianças andavam com traficantes de drogas e cometendo furtos e a intenção do pai seria protegê-las, por não ter quem as cuide. Um dos filhos tem síndrome de Down.

Tragédias brasileiras, envolvendo crianças, tornaram-se rotina. Mas onde estavam os adultos, enquanto as crianças, na sua inocência, iam em direção ao perigo? Essa é uma pergunta para psicólogos, assistentes sociais, professores e médicos tentar responder. Estavam preocupados ou envolvidos com as próprias tarefas. As crianças inocentes, sem conhecer o perigo, acabaram vítimas naqueles momentos fatídicos de desatenção, que nós adultos teimamos em cometer, achando que as crianças do século XXI, por terem nascido na era digital, estão mais espertas e sabem se defender. Esquecemos que, antes de serem privilegiados filhos dos avanços deste século, são crianças.

O mundo pode ter evoluído. As tecnologias à nossa disposição para cuidar de crianças fariam nossas avós se assustarem. Babás e câmaras eletrônicas, para vigiá-las; telefones com GPS, transmissão on-line das atividades das crianças na creche, para que os pais possam vê-las de qualquer lugar. Enfim, não faltam parafernálias eletrônicas para vigiá-las. Como se isso tudo tivesse aumentado a segurança das crianças.
Faltou, porém, nos casos narrados e em tantos outros que acontecem todos os dias pelo Brasil afora,  o olho atento e vigilante dos pais, avós, tios. Estes sim, jamais deveriam falhar. São neles que a criança deposita toda a confiança. Isso vale para qualquer momento. Pode ser até mesmo quando estão conosco, dormindo no banco de trás do carro, e o pai ou a mãe irresponsavelmente dirigem em alta velocidade, colocando suas vidas em risco. Naquele momento, a criança dorme porque confia cegamente que o motorista está ali para protegê-la e não para colocar sua vida em risco.

Essa vigilância implícita inclui os pais, que são os principais responsáveis, mas vale também para professores, babás, tias, para todos os adultos com missão de cuidar de crianças. Criança não permite bobeira, distração. Ela cega o adulto, como se diz na linguagem popular. Então, vigilância constante, atenção, prevenção de tragédias é o que nós adultos deveríamos fazer a todo momento, quando crianças estiverem por perto. Só nós podemos defendê-las e avaliar os perigos que as rondam.

Já não bastam as ameaças do mundo contemporâneo, que tanto podem ser diretas, quanto pelo mundo virtual, o que se percebe ultimamente é um desleixo com as vidas dos inocentes. É uma coleção de casos, os mais bizarros e impressionantes, que têm levado à morte ou a ferimentos graves crianças totalmente indefesas. Isso chega até ao improvável erro de uma enfermeira, em S. Paulo, que cortou a ponta do dedo de uma menina, ao retirar o curativo. É verdade.

O que os adultos estão fazendo a ponto de se tornarem ameaça às crianças? Será que a competição profissional e os apelos da vida moderna estão nos deixando insensíveis às fraquezas de nossas crianças?  Ou perdemos a capacidade de defendê-las, porque nós mesmos não sabemos o que fazer com elas e com nós mesmos?

*Jornalista, Consultor de Comunicação. Editor do site www.comunicacaoecrise.com. Email Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.

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