France_TelecomAumento no número de suicídios entre empregados da empresa francesa France Télécom  trouxe à tona problemas na administração em uma das maiores operadores de celular da Europa. 

Em 18 meses foram registrados 23 suicídios de funcionários, com fortes suspeitas de estarem  ligados a pressões e cobranças feitas pela empresa após reestruturação. A denúncia veio dos sindicatos e dos próprios empregados.

O caso enreda também o governo francês, com participação de 27% no capital da empresa.  Ela foi privatizada em 1996 e possuía 160 mil empregados, a maioria com direitos e regalias de funcionários públicos. Depois de várias reestruturações,  ainda existem 102 mil funcionários na empresa. O presidente da France Télécom, Didier Lombard, foi chamado pelo Ministro do Interior francês,  para explicar o que está acontecendo.  A pressão para que o governo tome uma atitude veio esta semana depois que um empregado em Metz foi encontrado inconsciente no trabalho. Segundo o sindicato, ele tomou barbitúricos durante o lanche.

Este caso veio à tona, três dias depois de uma empregada ter-se jogado do quarto andar do edificio do escritório da empresa, nas proximidades de Paris.  Porta-voz da France Télécom levantou a hipótese de que esses casos possam indicar uma síndrome: “Infelizmente,  o que nós tememos é a possibilidade de um contágio.  Nossa absoluta prioridade  é interromper este lamentável círculo”, afirmou.

Explicações para fatos lamentáveis como esse sempre surgem.  A empresa telefônica,  a terceira maior da Europa em número de celulares e a maior operadora de banda larga, admitiu que a taxa de suicídios entre os  100 mil empregados estaria dentro da média para empresas do porte.  Até aí, tudo bem. Mas é uma forma muito perigosa e delicada de explicar suicídios, que geralmente provocam crises graves de administração.  Como minimizar a morte de empregados, por menor que seja o número?

Em 1995, após o Banco do Brasil ter realizado o primeiro programa de desligamento voluntário entre as empresas do governo, o sindicato dos bancários denunciou uma elevação nos casos de suicídios entre os funcionários do BB. Segundo o sindicato dos bancários, haveria um aumento no número de suicídios, em função das pressões sobre empregados para que aderissem ao plano. Ou, pelo menos, para que decidissem se iriam ficar ou não na empresa, pois haveria transferências e cortes de cargos.

Diante da informação, a assessoria de comunicação do BB resolveu fazer um levantamento dos casos de suicídios comprovados de empregados e constatou que o número estava na média dos países desenvolvidos, cerca de 11 a 12 por ano, por 100 mil habitantes. Era essa também a média do Brasil. Com as informações comprovadas, e para neutralizar o boato, que recebia repercussão negativa na imprensa, a assessoria informou os números à imprensa, sem minimizar o acontecimento, até porque a abordagem desse tema na mídia é bastante complicado.  Não importa quantos empregados tenham se suicidado. O fato é sempre negativo. Mas, diante das evidências de que estava havendo uma exploração política dos suicídios, é obrigação de qualquer organização dar explicação correta e transparente à sociedade.
 
Não parece ser o caso da France Télécom. Os sindicatos associam os suicídios ao aumento das demissões, transferências e reestruturação, como meio de minimizar os efeitos da crise econômica.  O número de 23 suicídios,  desde o começo de 2008, parece ter ligado o sinal de alerta entre as chefias.  Um ministro francês descreveu a taxa de suicídios da empresa como “incrível”.

Numa mostra de que a France Télécom está preocupada com o fato, na semana passada , executivos fizeram uma conferência com 500 dos principais chefes da empresa para tentar assumir o controle da força de trabalho e implementar medidas urgentes para prevenir outros suicídios. Centenas de transferências de trabalho planejadas foram suspensas.

Em artigo recente, o diário The Lancet, apontou fortes indícios nos países desenvolvidos que correlacionam desemprego, crise econômica e aumento da taxa de suicídio. Embora o caso da France Télecom possa ter essa leitura, não há dúvidas de que, por envolver problemas morais, familiares, profissionais,  o suicídio, quando associado a uma empresa, tem sempre uma análise sob o viés ideológico. Termina explorado pelo jogo de poder entre patrões e sindicatos de empregados ou viés partidário, entre situação e oposição.
 
Nesta semana, o colunista Christopher Caldwell, publicou artigo no  Financial Times sobre o caso da France Télécom. Segundo ele, mesmo admitindo sérios problemas na empresa, com pressões sobre os empregados, a taxa de suicídio da telefônica francesa está dentro da média dos países europeus  e até acima da média francesa, considerada alta para os padrões mundiais. Enquanto a France Télécom registra média de 15 suicídios por 100 mil habitantes, a França tem 17 por grupos de 100 mil, superior aos índices dos Estados Unidos e da Inglaterra, por exemplo.

Talvez a France Télécom não tenha ainda conseguido explicar direito o problema que está enfrentado. Ou acordou tarde. A empresa deixou o fato ganhar repercussão internacional e causar arranhões à sua imagem e reputação, num momento extremamente vulnerável e difícil para empresas de serviço em todo o mundo.

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