Cartoes_de_credito3O imbróglio dos cartões corporativos em que ministros, secretários e o próprio governo acabaram envolvidos mostra como a crise pode começar por decisões ingênuas, às vezes inconseqüentes, mas com extensão imprevisível. Da tapioca do ministro dos esportes, às compras na freeshop da ex-secretária da promoção da igualdade racial, cargo público não combina com escorregão nos gastos de recursos do erário.

A mídia e a sociedade estão mais atentas e as estripulias acabaram nas páginas dos jornais. Embora no Brasil a impunidade seja a marca registrada, até porque denúncias de corrupção ou de malversação do dinheiro público acabam dando muita manchete e poucas penalidades, a imprensa continua sempre atenta aos gastos das autoridades. O papel dela é denunciar, fiscalizar, questionar.

A descoberta dos gastos inexplicáveis de ministros, secretários, assessores e até seguranças só foi possível graças ao avanço que a internet propiciou, dando mais transparência às contas do governo. Foi o que permitiu o acesso à discriminação dos gastos com esse tipo de cartão. Os cartões corporativos foram criados no Governo FHC exatamente para dar mais visibilidade aos gastos das repartições públicas nos casos mais urgentes.

Fica evidente nessa crise, que começou pequena e aos poucos cresce, a ponto de suscitar propostas de CPI, no Congresso, o pouco caso de algumas pessoas do governo com atos praticados no exercício do poder. Talvez porque o país se acostumou com a impunidade. Os cartões representam apenas a ponta do iceberg. Quando estoura um fato como esse dos cartões corporativos, a mídia faz a sua parte, dá destaque e coloca na berlinda quem não agiu direito.

Surgem então teorias conspiratórias, como a de que a pressão sobre a secretária da igualdade racial representaria uma discriminação, por ela ser mulher e negra. E a ministra Marta Suplicy, quando escorregou no “relaxa e goza”, sofreu pressão por que? Por ser branca e mulher? Bobagem. Autoridade pública precisa estar vigilante o tempo todo para não cometer deslizes. A mídia em qualquer lugar do mundo é implacável.  

O difícil nessas horas é ter a cabeça fria e administrar a crise cumprindo alguns princípios básicos, mas que são esquecidos. Identificar a crise; tomar atitude e administrá-la, tudo rapidamente. Em geral, as autoridades esperam que o tempo amenize a exposição e a crise passe. Só que ela cresce, quando não há transparência ou tenta se tergiversar ou desconversar, com explicações simplórias.

No caso da Secretária da promoção e igualdade racial, a crise saiu do âmbito da secretaria e começou a subir a rampa do Palácio do Planalto. A imprensa continuou esmiuçando os gastos do governo e cada dia mais dispêndios inexplicáveis aparecem. Virou uma bola de neve. Antes que alguém escorregue, o governo resolveu cortar o mal pela raiz, demitindo a Secretária Matilde Ribeiro.

Se analisarmos o que motivou a demissão e o constrangimento do Palácio do Planalto, foi um gasto até certo ponto irrisório para os milhões que são desviados dos cofres públicos. Mas não interessa o valor. Minimizar o ato, porque os ministros escorregaram ou trocaram de cartão é tentar tapar o sol com a tapioca. Os manuais de crise alertam. A maioria das crises é provocada por atos inconseqüentes, por pessoas bem perto de você, por decisões administrativas equivocadas ou mal avaliadas. Mais cedo ou mais tarde a crise chega. Se o administrador não estiver preparado e não tiver uma explicação plausível, cai mesmo. Como aconteceu.

O tema mereceu uma cáustica e objetiva análise de Carlos Chaparro, no artigo Mordomias de ontem e de hoje, postado em seu Blog.

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