Negocio_no_mundoUm concerto regido
por maestros ocultos...

“Os mercados mundiais têm dia de pânico”.
“Medo da crise global contamina negócios”.
“Mantega diz que não é possível sair ileso da crise”.

Nos jornais de hoje, de ontem, de anteontem, as manchetes têm sido essas, ou com esse tom. Elas nos falam de um mundo, o dos negócios financeiros, mais uma vez sacudido por uma instabilidade gigantesca, universal, que se encolhe e se estende em movimentos que ninguém sabe de onde vêm nem para onde vão. E que fazem estragos nas economias nacionais e na vida das pessoas.

Alguém por aí consegue nos explicar o porquê e o como dessa crise que tem o estranho poder de criar e expandir pânico em escala universal?

Tento entender a crise na leitura de jornais. Há opiniões, palpites, achismos. Aqui e ali, tímidas predições, tão oscilantes, de um dia para o outro, quanto os índices por meio dos quais a crise se manifesta, e se expande ou encolhe.

O relato dos jornais e a análise dos especialistas nada esclarecem. E nos passam a sensação de que a crise é um movimento sem comando inteligente. Obra de um caos espetacular, funcionando acima da vontade e da inteligência do bicho homem.

E com um detalhe enganador: a acreditar no noticiário dos jornais, esta é uma crise (como tantas outras já acontecidas no mercado financeiro) em que todos perdem e ninguém ganha.

Ora, isso é simplesmente impossível. Se alguém em pânico vende ativos que tem, para fugir do risco de perdas maiores, só vende porque alguém quer comprar. E compra barato para lucrar mais, lá na frente.

Até a próxima crise...

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No mercado financeiro, como em qualquer outro mercado de risco, há os que perdem e os que ganham. Não há como não ser assim. Mas os jornais e os analistas só falam em prejuízos e de quem os sofre. Não encontrei uma só palavra, uma só revelação, que me desse indícios de quem ganha.

E há os que ganham. Ou alguém duvida disso? Com mais um detalhe, que o nosso jornalismo econômico também esquece: quando, num dos extremos da gangorra, são multidões os que perdem, no outro extremo, os poucos ganhadores ganham muito.

E assim é o capitalismo, com sua lógica vital, a do consumismo, que o sábio Milton Santos chamava de “fundamentalismo” da globalização perversa.

***

Desconfio, entretanto, que o nosso jornalismo econômico jamais nos revelará quem produz e controla crises como esta. Quem são, onde estão eles? Ou elas? Que rosto têm?  - esses poderosos senhores do mundo do dinheiro real, que talvez fosse mais adequado chamar de mundo do dinheiro simbólico, já que tudo se reduz a índices e tudo se movimenta ao ritmo dos índices.

Não sabemos nem saberemos quem são nem onde estão os pais da crise. Mas que eles existem, não há como duvidar. Atrás de redes de computadores, e no comando delas, eles materializam esse capitalismo globalizado capaz de, em jogos interativos de fluxos informacionais, ganhar dinheiro, simultaneamente, em várias partes do mundo. Combinam fusos horários para gerar causas em um dos lados do planeta, e colher efeitos, no outro.
 
Agem como se o mundo fosse um tabuleiro de xadrez sobre o qual têm domínio absoluto. Sempre prontos e aptos para dar o xeque-mate nos que têm defesas frágeis. E é contra esses poderosos e misteriosos pais das crises, para se defenderem eles, que os governos europeus já negociam a montagem de mecanismos de vigilância. Não querem que as economias nacionais voltem a ser apanhados de surpresa por vendavais como este.

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Não sei grande coisa de economia. De finanças, menos ainda. Mas entendo o suficiente para saber que as crises sempre convêm a quem tira proveito delas. E se alguém as produz e controla, não há grande risco em conjeturar que elas são produzidas e controladas exatamente por quem delas tira lucros.

Antes que alguém pense que estou bazofiando, quero esclarecer que aprendi a fazer essa leitura das crises com um empresário, um grande empresário brasileiro, que sempre conviveu muito bem com crises e instabilidades, nacionais e internacionais. Quando o entrevistei, vinte e poucos anos atrás, ele comandava, como principal acionista, um dos mais importantes conglomerados industriais e financeiros do país. Um conglomerado que crescia continuamente, principalmente depois das crises. Portanto, esse senhor sabia muito bem do que falava quando me disse:

“As crises são ótimas. Quando elas ocorrem, fazemos o que não pode ser feito em tempos normais. Racionalizamos processos e métodos, enxugamos quadros, reduzimos custos, melhoramos padrões de produtividade. Nos encolhemos. E aproveitamos o momento para comprar concorrentes falidos. Quando a crise passa, damos o salto maior.”

Era um predador. Como predadores são os que, escondidos atrás do simulacro dos índices, se divertem e ganham dinheiro com mais essa crise que a fantástica difusão jornalística espalha em efeitos pelo mundo.

Sim, caros colegas: a cobertura jornalística da crise é um concerto muito bem regido por maestros ocultos.

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