Incendio em Los Angeles 8 jan 2025“As forças estruturais de várias décadas destacadas no Relatório de Riscos Globais do ano passado – aceleração tecnológica, mudanças geoestratégicas, mudanças climáticas e bifurcação demográfica – e as interações que elas têm entre si continuaram sua marcha adiante. Os riscos resultantes estão se tornando mais complexos e urgentes, e acentuando uma mudança de paradigma na ordem mundial caracterizada por maior instabilidade, narrativas polarizadas, confiança erodida e insegurança. Além disso, isso está ocorrendo em um pano de fundo onde as estruturas de governança atuais parecem mal equipadas para lidar com riscos globais conhecidos e emergentes ou combater a fragilidade que esses riscos geram.”

Assim começa a apresentação do Relatório de Riscos Globais de 2025, produzido pelo staff do Fórum Econômico Mundial, que anualmente reúne líderes políticos e empresariais, além de especialistas, para apresentarem o cenário global das ameaças ao clima e os riscos que afetam a vida das organizações.

O documento aponta os mais relevantes desafios globais com base na opinião de 900 especialistas, políticos e líderes empresariais, consultados entre setembro e outubro de 2024.

Alguns destaques desse relatório são importantes para balizar a gestão de governos e empresas, principalmente em relação às grandes crises que ameaçam o negócio e a vida no planeta.

“Preocupações sobre conflitos armados baseados em estados e confronto geoeconômico permaneceram, em média, relativamente altas nas classificações nos últimos 20 anos, com alguma variabilidade. Hoje, o risco geopolítico– e especificamente a percepção de que os conflitos podem piorar ou se espalhar – está no topo da lista de preocupações de prazo imediato. Medo e incerteza obscurecem a perspectiva em várias partes do mundo, incluindo Ucrânia, Oriente Médio e Sudão, com instituições multilaterais lutando para fornecer mediação eficaz e trabalharem direção a resoluções”.

As grandes ameaças

Conflitos armados e desinformação lideram preocupações imediatas, enquanto ameaças ambientais dominam perspectiva da próxima década. Em sua 20ª edição, o relatório analisou 33 categorias de riscos e revelou um cenário preocupante, marcado sobretudo por três grandes ameaças: o agravamento das tensões geopolíticas, a intensificação das crises ambientais e o aumento da desinformação.

Conforme o relatório, 25% dos especialistas consideram o “conflito armado baseado no Estado” o maior risco para os próximos dois anos, e mais de 50% preveem forte instabilidade nos próximos dois anos em decorrência deste contexto. Esta é uma preocupação que já vinha crescendo nas últimas edições do relatório. Contudo, em 2023, apenas 15% dos especialistas apontavam conflitos interestatais como principal risco. Em segundo lugar, 14% responderam que “eventos extremos no clima” é uma grande ameaça, o que de certa forma se comprovou em 2024.

Apenas para se ter uma ideia, nos últimos anos, entre os cinco principais riscos indicados pelo Fórum Mundial, alternadamente, há cerca de oito a dez anos se destacava o terrorismo, o cybercrime, crises de abastecimento de energia e alimentos, que provavelmente persistirão nos próximos anos, e riscos de recessão, com fortes aumentos em custo de vida, dificuldades de endividamento e sociedades polarizadas agravadas pela desinformação, esta categoria que, apesar de ter se acentuado no ano passado, já figurava no Relatório de 2023.

O terrorismo de certo modo está contido, já não figura no topo das grandes ameaças. Em contraposição, apareceram outras, como a desinformação, que surge pelo segundo ano consecutivo, por representar uma constante ameaça à estabilidade social e política, não apenas das grandes potências, mas mesmo de países periféricos. A 'desinformação' é deletéria, porque se utiliza de 'fake news" (notícias falsas) para perseguir objetivos nem tão nobres, muito ao contrário. Essa ameaça se agravou após a Meta, dona do Facebook e Instagram, ter anunciado que suspenderia seu programa de checagem, não apenas nos EUA, mas também em outros países, abrindo flanco para um questionamento jurídico que pode levar à suspensão da rede. O relatório de 2023 já alertava para o risco crescente da desinformação, impulsionada por inteligência artificial, previsão que se confirmou ao longo do ano.

Crise climática atinge países pobres e ricos

Forum Mundial capaNa análise de longo prazo (10 anos), os riscos ambientais lideram as preocupações, com especial atenção após 2024 ter sido confirmado como o ano mais quente já registrado na superfície da Terra, segundo relatório da Organização Meteorológica Mundial (OMM). A temperatura média global ficou 1,48°C acima dos níveis pré-industriais, ultrapassando pela primeira vez o limite de 1,5°C estabelecido pelo Acordo de Paris.

No cenário dos riscos globais para 2025 e anos seguintes, eventos climáticos extremos aparecem em primeiro lugar entre os riscos, seguidos por perda de biodiversidade, destruição de ecossistemas, alterações nos sistemas terrestres e escassez de recursos naturais.

As edições anteriores do relatório já apontavam esta tendência - desde 2020, os riscos ambientais têm ocupado as primeiras posições nas previsões de longo prazo. Desastres naturais têm se destacado não apenas na quantidade com que ocorrem nos últimos anos, mas – como alertado pelo menos há dez anos – pela intensidade, o poder de destruição e o custo em vidas humanas e em prejuízos financeiros. A consequência desse cenário são catástrofes ambientais, em especial as relacionadas a eventos climáticos extremos, como incêndios, inundações ou estiagem prolongadas que acabam causando o colapso dos ecossistemas, poluição e escassez de recursos naturais, agravando a pobreza e a disseminação de epidemias e doenças crônicas nas populações mais vulneráveis. Para se ter uma dimensão, calcula-se que o prejuízo com desastres naturais em 2024 passou de 400 bilhões de dólares. Se observarmos a década 1990 a 1999, a média anual de gastos era menos de 100 bilhões de dólares. Nas décadas 2010 a 2019, o custo médio dos desastres por ano foi de 160 bilhões de dólares.

Basta recordar que no Brasil a intensidade das queimadas na Amazônia e no Pantanal no ano passado e a maior inundação da história do Rio Grande do Sul não foram eventos isolados ou uma fatalidade. São consequências das alterações climáticas decorrentes da poluição ambiental e da falta de políticas mais rigorosas na preservação das florestas e nos rios. Segundo estudo publicado pelo Ipea, a mancha de impacto das enchentes e deslizamentos no Rio G. do Sul atingiu aproximadamente 16.126 km², alcançando 484 municípios. Tragédia que, a rigor, nenhum climatologista previu na dimensão em que aconteceu.

O Relatório alerta para outro ‘cluster’ de crise. “Riscos sociais como desigualdade estão entre as principais preocupações atualmente, assim como nos últimos anos. A polarização dentro das sociedades está endurecendo ainda mais as visões e afetando a formulação de políticas. Ela também continua atiçando as chamas da desinformação e da má informação (fake news), que, pelo segundo ano consecutivo, é a principal preocupação de curto a médio prazo em todas as categorias de risco. Os esforços para combater esse risco estão enfrentando um oponente formidável em conteúdo falso ou enganoso, criado por IA generativa que pode ser produzido e distribuído em escala.”

Conflitos armados entre estados e a polarização da sociedade estão também no topo das crises previstas pelos entrevistados no Relatório. Se há dez ou cinco anos seria improvável se prever dois conflitos extremamente graves no mundo, como aconteceu de 2023 para cá, entre Rússia e Ucrânia e, no Oriente Médio, entre Israel e o grupo terrorista Hamas, hoje é a quarta maior ameaça mundial no ranking das crises. A polarização é o fenômeno que vem marcando os últimos anos.

Segundo o relatório do Fórum Mundial, “Os riscos econômicos caíram nas classificações desde o ano passado, com a inflação e o risco de uma crise econômica não mais no topo da mente entre os tomadores de decisão e especialistas. Mas não há espaço para complacência: se os próximos meses virem uma espiral de tarifas e outras medidas restritivas ao comércio globalmente, as consequências econômicas podem ser significativas.”

No ranking apontado pela pesquisa, além das cinco modalidades de ameaças globais, já analisadas acima, com menos menções aparecem, a partir do 6º lugar, poluição, desigualdade, migração ou deslocamentos involuntários; conflitos geoeconômicos e erosão dos direitos humanos ou das liberdades cívicas. A posse de Donald Trump na Casa Branca certamente terá um impacto significativo, pelas decisões radicais de expulsar e impedir o acesso de imigrantes aos EUA; uma política de prospecção de petróleo descompromissada com o meio ambiente e um discurso que vem de encontro a tudo que o mundo está fazendo para reduzir o aquecimento do planeta.

Crise climática

O relatório, na análise de longo prazo (10 anos), mostra que os riscos ambientais lideram as preocupações dos entrevistados, com especial atenção após 2024 ter sido confirmado como o ano mais quente já registrado na superfície da Terra, segundo relatório da Organização Meteorológica Mundial (OMM). A temperatura média global ficou 1,48°C acima dos níveis pré-industriais, ultrapassando pela primeira vez o limite de 1,5°C estabelecido pelo Acordo de Paris.

No estudo do Fórum, eventos climáticos extremos aparecem em primeiro lugar entre os riscos, seguidos por perda de biodiversidade, destruição de ecossistemas, alterações nos sistemas terrestres e escassez de recursos naturais. As edições anteriores do relatório já apontavam esta tendência. Desde 2020, os riscos ambientais têm ocupado as primeiras posições nas previsões de longo prazo.

Riscos tecnológicos

Segundo o relatório, “Em um ano que viu considerável experimentação por empresas e indivíduos para fazer o melhor uso das ferramentas de IA, preocupações sobre os resultados adversos das tecnologias de IA estão baixas no ranking de risco em uma perspectiva de dois anos. No entanto, a complacência em torno dos riscos de tais tecnologias deve ser evitada, dada a natureza acelerada da mudança no campo da IA e sua crescente ubiquidade. De fato, os resultados adversos das tecnologias de IA são um dos riscos que mais sobem no ranking de risco de 10 anos em comparação com o ranking de risco de dois anos.”

Finalmente, a pesquisa também segmentou as ameaças de crise por países. “Quais são os cinco riscos mais prováveis de representar a maior ameaça ao seu país nos próximos dois anos?” Os entrevistados foram solicitados a selecionar as crises com base numa lista de 34 riscos. No Brasil as respostas indicaram: 1º Recessão econômica (por exemplo, recessão, estagnação); 2º Dívida pública; 3º Escassez de mão de obra e/ou talentos; 4º Eventos climáticos extremos (enchentes, ondas de calor etc.) e 5º Pobreza e desigualdade (riqueza, renda).

O Relatório do Fórum Mundial é um documento que deveria ser lido e discutido pelo menos uma vez no ano, pelas diretorias das grandes empresas. Principalmente por aquelas que apregoam o compromisso com a agenda ESG. Se nós não podemos evitar que catástrofes naturais aconteçam, pelo menos os líderes empresariais deveriam ser alertados que o compromisso com o clima, o meio ambiente e a saúde da população deveria ser uma prioridade nas decisões corporativas.

Veja a íntegra do Relatório dos Riscos Globais do Fórum Mundial

 

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