comunicacao como fazerFrancisco Viana*

A realidade aponta para uma questão: O que é hoje comunicação? Como desdobramento, uma outra pergunta: qual é o papel do comunicador? Quando nos debruçamos sobre a quantidade de presos ilustres que se sucedem nos cárceres da Operação Lava Jato em Curitiba, a primeira pergunta é: para que serviam seus assessores de comunicação? Será que ninguém levantou a questão da vulnerabilidade – para usar uma palavra elegante – dos modelos de negócio ou de gestão da coisa pública? E, se levantou a questão, foi sequer remotamente ouvido?

Na realidade, a comunicação tem um propósito antigo: diminuir as contradições no conflito permanente entre o que se anuncia e o que se faz. O ideal seria se a filosofia da comunicação valorizasse o bem comum na forma de fazer preponderar as soluções em lugar dos problemas. O que viceja no País é justamente o contrário. A cada dia vemos uma comunicação menos sensível à sociedade e mais próxima dos antigos guerreiros medievais. Sabiam destruir, não construir. Eram especialistas em provocar desastres, não em criar condições para o progresso da vida. O Renascimento foi diferente. Especializou-se em construir.

No campo da percepção metafórica, a imagem do guerreiro medieval parece ser apropriada. Há alguns dias, o Jornal Nacional trouxe uma notícia muito especial: a Justiça iria promover negociações entre clientes e empresas (públicas e privadas) pela internet. Motivo: anualmente, surgem um milhão – sim um milhão – de processos contra empresas que prestam serviços questionáveis ao público. Não é uma contradição? A empresa cobra, vive do público e não respeita o público? Eis uma nova versão da vulnerabilidade do modelo de negócio. Não precisa recorrer à propina, tal como vem sendo denunciada, mas basta apenas não cumprir o prometido. Assim, o maior inimigo do comunicador seria a organização. Como fazer comunicação se a própria organização destrói o que se propõe a fazer?

Comunicação se resume nesta palavra chave: confiança. Se constrói a confiança, da mesma forma que se destrói: no dia a dia. Nas últimas décadas, entre nós, prevaleceu a cultura da destruição da confiança. Falar palavras vazias se tornou a tônica dominante. A Comunicação, a despeito da sua vasta experiência, foi relegada a plano secundário e o que se viu foi a emergência de um mundo negocial – no sentido amplo, envolvendo o público e o privado – profano. Prevaleceu, em larga escala, a velha tese de que as leis existiam para não serem cumpridas.

De repente, as leis começaram a valer e cresceu a lista do que estão nos cárceres. Há, inclusive, um príncipe do empresariado preso. E daí? A lei igualada a todos. Mas não são apenas as prisões. Como ficam as empresas, antes tidas como modelos, que são tragadas pela avalanche de denúncias de corrupção? Será que ninguém pergunta aos comunicadores: como vocês não viram que nós iríamos afundar? Por que só falavam do lado bom das coisas para nós? Por que não alertaram que as crises se gestam lentamente?

Dias piores virão. Que ninguém tenha dúvida. Há muito para passar a limpo, muito que criticar. Negócio não pode ser visto como lucro imediato. É imperativo pensar nas consequências. O Renascimento ocorre em paralelo com a guerra medieval de todos contra todos. Mas ainda vai demorar. Por isso, a comunicação necessita de novo sentido, necessita mudar. Não se nutre apenas de palavras bonitas. É um método. Exige rigor. Exige cuidado. Necessita estar a serviço de um novo renascimento, se é que um dia, mesmo no passado remoto tivemos algum. Fica a ideia: o caráter sagrado da comunicação é inseparável do valor da confiança. Não adianta ignorá-lo. É um caráter teimoso. Volta sempre à procura da luz do dia.

* Francisco Viana é jornalista e mestre em filosofia política ( PUC-SP).

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