Até onde empresas devem interferir nas conexões online dos empregados? A obsessiva síndrome de consulta permanente ao celular, redes sociais, emails não estaria comprometendo o desempenho e a produtividade nas empresas? O empregador poderia disciplinar e fiscalizar o uso das redes sociais, uma vez que naquele horário o empregado deveria estar totalmente disponível para a organização?
É um tema polêmico, mas que já preocupa diretores de recursos humanos pelo mundo. Em alguns países europeus, no ato da contratação muitas empresas deixam bem claro, para o novo empregado, que elas podem monitorar emails corporativos. Significa que qualquer mensagem pessoal, que passar pelo email corporativo, poderia ser interceptada ou lida pela empresa.
No Brasil não deve ser diferente, embora haja um entendimento consensual ou cultural de que o email, ainda que abrigado nos provedores do empregador, estaria contemplado na "privacidade" do empregado. Mas é bom não confiar tanto assim.
Ao mesmo tempo em que o tempo gasto nas redes sociais mais cedo ou mais tarde terá de ser disciplinado e fiscalizado, como a população encara a utilização das mídias sociais para postagens eventualmente contrárias aos princípios da organização onde o empregado trabalha?
Empregados deveriam ser punidos por deslizes
Pesquisa da organização americana YouGov Omnibus, realizada este ano, nos Estados Unidos, constatou que a maioria dos entrevistados reconhece ser apropriado as empresa disciplinarem os funcionários para conteúdos inadequados na mídia social, adotando procedimentos que penalizem aqueles que avançarem o sinal. A postagem inapropriada e irresponsável de comentários relacionados ao ambiente de trabalho representa também um grande risco à reputação da organização e, por isso, deveria fazer parte da gestão de riscos da corporação.
41% dos entrevistados acreditam que as empresas devem ser capazes de disciplinar os funcionários para suas atividades de mídia social; 32% são contrários. Pessoas com nível superior (51%) são mais propensos a concordar com atos disciplinares do que aqueles com o ensino médio ou menos (38%), assim como também aprovam a medida aqueles com níveis salariais mais elevados.
Apesar de um quarto (25%) pensarem que, por ser uma conta pessoal, as páginas das mídias sociais de um indivíduo não deveriam ser de interesse para o empregador, 52% acreditam que as empresas devem ser capazes de disciplinar um empregado sobre conteúdos voltados para crimes de ódio, violência ou outra atividade criminal. 47% acham que o empregador deve ser capaz de disciplinar um empregado que atacar a empresa, seus funcionários ou marcas.
Redes sociais e mensagens privadas
A pesquisa do YouGov também descobriu que há uma grande confusão sobre quais mídias sociais oferecem a opção de mensagens privadas, sem que possam ser confundidas com atitudes relacionadas à rede corporativa; e muitos estão confusos quanto ao uso de mensagens de forma privada, sem cometer qualquer deslize profissional.
Na pesquisa, 57% dos entrevistados não acham que a mídia social seria um bom método para enviar mensagens privadas; 53%, corretamente, achavam que o Facebook tinha opções de mensagens "privadas" e apenas 15% sabiam que o LinkedIn ou o Twitter (17%) tinham recursos de mensagens privadas.
A idade do internauta faz grande diferença, diz a pesquisa. Usuários mais velhos estão menos propensos a se aventurar para o campo das mensagens privadas do que jovens usuários e dois terços (67%) dos internautas, com idades entre 18 e 34 anos, têm utilizado mensagens privadas do Facebook, em comparação com apenas 41% das pessoas com mais de 55 anos.
Muitas pessoas (50%) admitem que qualquer mensagem, mesmo que tenha configuração de mensagem privada, pode ser tornada pública. Pelo menos a maioria (78%) dos americanos respondem que nunca enviaram uma mensagem de que tenham se arrependido, quando sob a influência de álcool ou drogas; 15% admitiram que podem ter feito isso uma vez por ano.
O especialista americano em gestão de crises, Jonathan Bernstein, editor do Blog Bernstein Crisis Management, diz que o resultado da pesquisa é um interessante alerta aos usuários para ficarem atentos ao modo como utilizam as redes sociais. Mas, e quanto aos empregados? Podem ser demitidos os que tenham causado crises nas redes sociais, trazendo, como resultado, problemas à reputação da empresa?
Bernstein recomenda que a empresa ponha em prática políticas de utilização das redes sociais e treine todos os empregados nessas políticas regularmente. Se a organização tem regras claras, ela pode provar que o empregado estava avisado, e aplicar as medidas disciplinares previstas nas normas da empresa. Por se tratar de um tema ainda bastante polêmico nas relações trabalhistas, recomenda-se também que seja discutido nas reuniões internas, como forma de evitar crises, cada vez mais constantes, com práticas erradas de usar as redes sociais em assuntos relacionados com a organização.