Geysa_-_estudante_uniban_143_x_250Três universidades nos últimos dias demonstram como a academia vai na contramão dos tempos e dos costumes. A Unip oferece um mimo para os alunos a avaliarem de forma positiva no Enade. A USP se vê envolvida em denúncia de plágio e a Uniban - Universidade Bandeirante se superou. Expulsa aluna agredida pelos colegas, porque suas roupas seriam provocantes. O tempora O mores! diria Cícero, diante de tanta aberração.

Mau exemplo para quem deveria estar comprometido com a educação. Alunos da Universidade Paulista (Unip) informam que a instituição ofereceu um pen drive em troca de avaliação positiva no questionário do Enade – Exame Nacional de Desempenho do Estudante, segundo o jornal O Estado de S. Paulo.

Se a Universidade não se garante com o ensino que deveria prestar aos alunos, pior ainda cooptar estudantes para dar nota “de graça” em troca de um mimo. O ato funciona como um marketing às avessas. Esse deveria ser bom motivo para recomendar aos filhos não se matricular numa universidade que vira as costas para a ética e dá mau exemplo aos alunos e à sociedade. Deveria ser punida pelo MEC, se for verdadeira a denúncia. A universidade declarou que presenteou os selecionados para estimulá-los a fazer a prova. Os estudantes discordam. Tem cheiro de crise no ar. Ou pelo menos de maracutaia.

USP atropela ética

A USP, a mesma que em 2008 aplicou uma moção de censura a um professor por plágío, acabou vítima do mesmo veneno. Uma aluna de doutorado faz uma tese e recebe a colaboração de dez professores (entre eles a reitora Suely Vilela). Agora se descobre que o artigo plagiou três fotografias e algumas frases, sem citar os autores, nem sequer na bibliografia. Na hora de faturar os artigos, os dez professores posam de co-responsáveis. Quando se descobre o plágio, a aluna vai pagar sozinha.

Plágio, essa praga que infesta a educação hoje, foi objeto de artigo neste Blog no fim do ano passado. Alunos preguiçosos se unem a professores irresponsáveis e fazem um “pacto de mediocridade”. Professores fingem que não viram e o aluno vai para banca com trabalhos copiados, plagiados ou feitos por outros, sem que sejam punidos. No caso da USP, a prática de professores pegar carona no trabalho dos estudantes está virando também uma epidemia nefasta no ensino superior. Infla-se o artigo com assinaturas de mais, com conteúdo de menos. Está na hora da academia criar vergonha e acabar com essa prática.

A saia curta da Uniban

A estudante da Uniban, de S. Bernardo, Geyse Arruda, hostilizada e quase agredida pela turba de colegas, ao usar um vestido curto durante as aulas, há duas semanas, foi expulsa da universidade. De acordo com nota, publicada nos jornais em 08/10, a Uniban colheu depoimentos de alunos e alunas, professores, funcionários e da estudante envolvida, além de analisar vídeos e imagens divulgadas. A universidade alegou desrespeito aos princípios éticos, à dignidade acadêmica e à moralidade.

Quem deveria ser expulso é todo o colegiado que enxotou a estudante. Por preconceito, precipitação, medo e falta de autoridade para administrar uma universidade. O ato vai de encontro ao que está explícito nos “Valores” da Uniban, publicados no seu site: SER HUMANO - Propiciar tratamento justo a todos, valorizando o trabalho em equipe, o alto grau de sinergia e integração, estimulando um excelente ambiente humano de trabalho.

A Uniban mostra como não sabe respeitar as diferenças e gerenciar uma crise. Ao permitir que estudantes hostilizassem uma colega por motivo fútil, como aconteceu, além de atentado aos próprios valores, mostra uma segurança fraca, despreparada e preconceituosa. Ao expulsar a aluna sumariamente, sem amplo e aberto direito de defesa, despreza o que provavelmente deveria estar ensinando no curso de Direito, que oferece.  Como pode educar, quem não sabe gerenciar uma crise que envolve um aluno e respeitar os fundamentos básicos do direito da pessoa?

A alegação da Uniban de que expressa apoio aos 60 mil alunos aviltados, não resiste a uma análise superficial. A universidade é um lugar que deve conviver com a pluralidade e não abrigar ideias atrasadas e ultrapassadas. Se fosse no século XIX, o traje da estudante poderia chocar por fugir às convenções da época. Mas em pleno século XXI, expulsar uma aluna que usou vestido curto, ainda que provocante, beira a radicalismo da Idade Média, quando se queimavam os hereges em praça pública. E pior, a Uniban aproveita a Nota publicada na imprensa para atacar o comportamento da mídia, como se divulgar o barraco em que se transformou o campus fosse culpa da imprensa e não do tumulto em que se transformou a universidade. Está virando moda, agora, atacar a mídia, quando o presidente da República, políticos e até universidades se veem às voltas com crises mal administradas.

O promotor de Justiça, Roberto Livianu, afirma que a decisão é um “exagero”, “foge à razoabilidade” e lembra “posturas fundamentalistas”, segundo o jornal O Estado de S. Paulo. A UNE condenou a expulsão por autoritária e preconceituosa. Que colegiado é esse que se arroga o direito de definir o que é provocante? Houve algum ato obsceno que a estudante tenha cometido e afrontado a Lei? A Uniban, que não conseguiu conter um tumulto interno, vazado por celulares e câmeras escondidas, achou facilmente um culpado na pessoa da estudante, que de vítima se transformou em vilã. Tudo isso, na tentativa de tirar o fato das manchetes. Se a intenção foi essa, errou duas vezes por não saber como administrar a crise. Pelas reações e consequências, a Uniban conseguiu piorar a própria crise.

A Uniban desde o começo desse episódio, ao não conter a arruaça e os insultos proferidos contra a estudante, demonstrou como não sabe administrar o próprio campus e nem lidar com as diferenças. Os alunos e alunas, ao gritarem em coro “puta” para a estudante, transformaram-se naquilo que o escritor Elias Canetti, na obra-prima Massa e Poder, chama de turba, quando a multidão extravasa, perde o controle. São arruaceiros, que se deixam levar pela “onda” e aderem a histerias coletivas, porque todo mundo também faz. São também despreparados,  preconceituosos e até perigosos. Ninguém, sequer em flagrante delito, pode ser ameaçado, agredido e vilipendiado nas dependências de qualquer repartição. Muito menos uma aluna dentro da universidade.  

Uniban recua

Um dia depois da publicação da Nota nos jornais, comunicando a expulsão da aluna, a Uniban recuou da decisão. Sem entrar em maiores detalhes, divulgou outra Nota em 09/11:

“O reitor da Universidade Bandeirante – Uniban Brasil, de acordo com o artigo 17, inciso IX e XI, de seu Regimento Interno, revoga a decisão do Conselho Universitário (CONSU) proferida no último dia 6 sobre o episódio do dia 22 de outubro, em seu campus em São Bernardo do Campo. Com isso, o reitor dará melhor encaminhamento à decisão.”

De qualquer forma, tudo que foi escrito acima continua válido, porque realmente a universidade não soube administrar essa crise, tomando decisões precipitadas e que a levaram à condenação unânime da sociedade e da opinião pública.

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