bndes1A Polícia Federal desencadeou no fim de abril a Operação Santa Teresa, com o objetivo de desmantelar uma organização criminosa. Além de praticar crimes de tráfico local e internacional de mulheres e explorar a prostituição, a quadrilha participava de fraudes na concessão de empréstimos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

Na apuração desses crimes, a PF flagrou assessores de deputados e até um advogado, membro do Conselho de Administração do BNDES, fazendo tráfico de influência, aliás uma doença endêmica cada vez mais em moda no Brasil. O assunto pauta a imprensa pelo menos há duas semanas e ainda não acabou.

O colunista Elio Gaspari, em artigo na coluna semanal de 04/05 na Folha de S. Paulo,  O Globo e outros jornais mostra como O BNDES caiu na banda podre do noticiário econômico. No artigo o colunista lembra que, além das denúncias da PF, o banco estatal aprovou financiamento de R$ 2,6 bilhões para a fusão da Oi com a Brasil Telecom, atropelando a legislação. Ao mesmo tempo, lembra financiamento de R$ 7,3 bilhões à Vale. Logo depois da liberação, o secretário-executivo do banco foi trabalhar como diretor da Vale.  Se não for ilegal, pelo menos não é ético.

Em 07/05, o colunista Elio Gaspari traz novas denúncias em outro artigo publicado na Folha: Resolveram municipalizar o BNDES. Ele faz críticas a um diretor do BNDES que teria comparecido a evento do Prefeito, na Prefeitura de Praia Grande, para comemorar um financiamento de R$ 124 milhões. Essa é uma das prefeituras investigadas pela Polícia Federal na operação Santa Tereza.  

O BNDES tem uma marca forte no país. Fundado em 1952, no segundo governo Getúlio Vargas, nasceu e sempre esteve associado a grandes projetos de desenvolvimento e de industrialização do país. Elio Gaspari lembra que a associação do BNDES a falcatruas não é privilégio do governo Lula. O processo de desgaste começou antes. No governo anterior, mereceu ampla cobertura a gravação de discussões suspeitas de empresários, interessados no processo de privatização, com pessoas ligadas ao banco estatal.

O que isso tem a ver com comunicação?  Tudo. A imagem de uma instituição é formada pelo conjunto de percepções  captadas pelos mais variados meios ao longo do tempo. Essa percepção vai desde o trabalho e o serviço prestado, até a qualidade dos produtos, a utilidade para o país e passa pelo discurso reproduzido pela mídia, em torno da marca, que sensibiliza consumidores e outros stakeholders. O BNDES é uma das jóias da coroa da República, junto com outras empresas ícones como Petrobras, Banco Central, Banco do Brasil, Correios. Acumula um capital de credibilidade extremamente forte no imaginário dos brasileiros.

A freqüência de denúncias envolvendo o BNDES compromete não apenas a administração mas a própria história da instituição. Aquele capital positivo, acumulado em tantos anos de atividades para a sociedade brasileira, se esvai com rapidez. É um ativo importante da instituição que se esboroa pela sucessão de trapalhadas. Se alguém tem compromisso com a história, deve estancar esse processo de desgaste, pois assim começam as crises de imagem. Só não se sabe onde vão acabar.

Isso tem muito a ver com a facilidade no Brasil de se partidarizar a administração de empresas públicas. A indicação de amigos, membros do partido que está no poder, em detrimento dos técnicos, acaba transformando as instituições em sucursal de falcatruas e benesses para os amigos do rei. Perde-se o foco no múnus público, quando o interesse privado se sobrepõe ao interesse público.

Resultado: a imagem das corporações vai para o beleléu. Como não existe, da parte desses grupos, comprometimento com a perpetuidade das instituições, mas apenas com o próprio bolso e o dos amigos, lixe-se a reputação ou o futuro. Os afiliados e aliados políticos, com a conivência dos governantes,  apropriam-se das instituições como se donos fossem. Gastam a rodo, concedem favores, liberam empréstimos, facilitam licitações, distribuem recursos para ONGs, sindicatos e até para associações que afrontam a lei, viajam para o exterior por conta do erário e a reputação da instituição que se lixe. Mas, preocupar-se para quê? Eles estão apenas de passagem. Em breve, não estarão mais lá. Aí o problema já não é mais deles.

A administração de crise volta-se cada vez mais para os fatos que ameaçam a reputação. Sabe-se o custo de uma instituição para construir e preservar uma  imagem. Numa época em que as notícias viajam na velocidade do pensamento pelos cabos de fibra ótica, manter a reputação é investir num capital importante para o futuro. E, no caso do BNDES, a diretoria da plantão tem o dever de preservá-lo e não deixar que esse potencial se dissolva. Deveria, isto sim, ser a primeira a defendê-lo e blindá-lo contra as quadrilhas que, infiltradas ou não nos entes públicos, colaboram para dilapidá-los. Até porque são instituições que não pertencem ao governo, mas ao Brasil.

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